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quarta-feira, setembro 29, 2004

This Mortal Coil (20 anos)

 pelO Puto 


Faz para o mês que vem 20 anos que foi editado o álbum "It'll End In Tears", do projecto This Mortal Coil, idealizado pelo mentor e fundador da mítica editora 4AD, Ivo Watts-Russell. Com isto pretendia editar várias versões de temas originalmente interpretados pelos seus ídolos musicais (Tim Buckley, Big Star, etc.), utilizando os artistas assinados pela editora. E, para quem não sabe, o nome foi retirado do famoso monólogo de Hamlet com a caveira.
No início da década de 80 nasce a 4AD, uma editora orientada para sonoridades etéreas, oníricas e ambientais, ora belas ora assombrantes. Foi desde então que Ivo (chamemos-lhe assim) foi formando um conceito, utilizando os recursos disponíveis, que não eram poucos (Modern English, Cocteau Twins, Dead Can Dance, Colourbox, Wolfgang Press) . A primeira gravação foi uma versão de "Song To The Siren" (1983), de Tim Buckley, interpretada por Elizabeth Fraser e Robin Guthrie, dos Cocteau Twins. Tornou-se um pequeno sucesso (basta ser o tema mais conhecido deste projecto musical) e catapultou o álbum de estreia, "It'll End In Tears", para os tops um pouco por toda a Europa - ainda me lembro, quando era miúdo, de ver num programa de TV esse álbum a chegar quase ao top ten. "Song To The Siren" e o resto do álbum representam, por excelência, o tal chamado "som 4AD". Tanto as versões como os temas originais foram supervisionados por Ivo, por forma a garantir esse resultado final. E, diga-se de passagem, é um dos álbuns dos anos 80, com temas belíssimos e versões com vida própria . Para tal contribuiram bastante as colaborações, principalmente dos vocalistas (Liz Fraser dos Cocteau Twins, Gordon Sharp dos Cindytalk, Howard Devoto dos Buzzcocks e dos Magazine, Lisa Gerrard dos Dead Can Dance).
Dois anos depois é editado "Filigree and Shadow", aqui já em formato alargado para álbum duplo. A estrutura e conceito mantêm-se (versões intercaladas com temas originais), mas dá-se um pouco mais de ênfase aos arranjos - em grande parte graças a Martin McCarrick - e aos temas originais. Nas versões há temas mais familiares e outros mais rebuscados (os gostos de Ivo são assim), indo de Tim Buckley, Talking Heads ou Van Morrison, a Pearls Before Swine e Gary Ogan & Bill Lamb (conhecem? Eu também não, mas as versões são de tirar o fôlego). Destaque para as vozes estreantes no projecto: Dominic Appleton (Breathless), as irmãs Deidre e Louise Rutkowski, Alison Limerick, que mais tarde ficaria conhecida no campo da música de dança (!), e o francês Richenel (que aqui canta inglês). É um álbum conceptual, coeso e, mais uma vez, dotado de uma beleza estonteante e de uma atmosfera envolvente. Mais um momento alto dos eighties extra-pop-plástico (que tanto gosto também).
O capítulo final chega em 1991, em "Blood". Com este álbum faz sentido falar na triologia, pois adivinha-se o fim do projecto, e o último tema (um original) elimina qualquer dúvida. Ivo continua a trabalhar o conceito, mas aqui amplia um pouco o espectro sonoro, com aproximações ao ambient dub e às orquestrações mais luxuriantes. Encontram-se aqui temas de ídolos de Ivo, tais como Syd Barrett, The Byrds, Spirit ou Chris Bell (Big Star), ou de artistas contemporâneos, tais como The Apartments, Pieter Nooten & Michael Brook (ambos editaram pela 4AD) ou Mary Margaret O'Hara. São deliciosamente interpretados pelos repetentes Dominic Appleton, irmãs Rutkowski e Alison Limerick, e também por Caroline Crawley (Shelleyan Orphan), Kim Deal, Tanya Donelly e Heidi Berry, entre outros. O disco não possui o apelo nem a envolvência e integridade do registo anterior, mas tem os seus momentos altos.
E assim se encerra a triologia. Todos os 3 álbuns apresentam na capa a mesma pessoa, a modelo Pallas Citroen (nome estranho, não?), e foram todos concebidos pelos habituais colaboradores da 4AD, a v23 (23 envelope).
Este artigo foi uma pequena homenagem a uma das editoras mais embleméticas dos anos 80/inícios de 90, e a um dos seus projectos mais ambiciosos.
http://www.4ad.com/

segunda-feira, setembro 27, 2004

Nick Cave & The Bad Seeds - Abattoir Blues / The Lyre Of Orpheus (2004)

 pelO Puto 

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Finalmente! Nick Cave e os seus companheiros The Bad Seeds estão de volta, no verdadeiro sentido da expressão. Já não se ouvia um disco, ou melhor, discos tão bons desde "Murder Ballads" (1996). Após as aventuras com sons mais intimistas (e mais aborrecidos) de "The Boatman's Call" (1997) a "No More Shall We Part" (2001), e esquecendo essa mancha chamada "Nocturama" (2003), Nick Cave e Cia. oferecem-nos não um, mas dois álbuns que são um deleite.
O facto de serem dois tem duas explicações possíveis: 1ª porque não cabiam nos 80 minutos de um CD; 2ª a diferença de sonoridades base e de temática. "Abattoir Blues" é a metade mais sónica e expressiva, mesmo nível das letras, à semelhança de "Tender Prey" (1998) ou "Henry's Dream" (1992) (Jim Sclavunos é quem toca bateria, conferindo-lhe maior intensidade), enquanto "The Lyre Of Orpheus" explora o lado mais melancólico e espiritual (o tom jazzy da bateria de Thomas Wydler ajuda à diferença), continuando na linha de "The Good Son" (1990) ou mesmo de "Murder Ballads" (1996).
A principal inovação é a utilização frequente de coros gospel, o que funciona como um equilibrante à voz soturna do australiano. É "ouro sobre azul".
Neste disco 2 em 1 só há a lamentar a ausência de Blixa Bargeld, o que talvez explique a maior limpeza na textura do álbum.
É caso para dizer: Avolta, Nick, que estás aperdoado!
http://www.nick-cave.com/
http://www.nickcaveandthebadseeds.com/

Björk - Medúlla (2004)

 pelO Puto 


Esta islandesa pode não ser a mais original das artistas, mas há que lhe reconhecer o sentido de inovação. De disco para disco faz questão de evoluir e aplicar-se em obras conceptuais.
Em "Debut" (1993) explorou a música de dança e o jazz, duas das suas grandes (e óbvias) paixões.
O álbum seguinte, "Post" (1995), densifica o esforço e diversifica os estilos expostos no álbum de estreia, onde ela se vai começando a rodear de músicos e colaboradores que ajudam (e muito) a atingir o som final pretendido.
O álbum de 1997, "Homogenic", utiliza orquestrações e arranjos luxuriantes em conjugação com breaks para construir temas de uma beleza quase arrepiante.
Até mesmo quando se aventurou nos musicais, em "Selmasongs" (2000), conseguiu algo fora do comum nesse campo, apesar da sua interpretação no filme "Dancer in the Dark" dar origem a diversas opiniões.
Em 2001 editou "Vespertine", onde os micro-sons e clicks criados artificialmente em computadores dominam o som, acompanhados, como sempre, da voz inigualável da islandesa, aqui mais experimental que nunca.
E foi precisamente na voz humana que Björk se baseou para conceber o seu último álbum, Medúlla. Fez questão de apenas utilizar vozes humanas (como ela própria afirmou "instruments are so over") para construir melodias e alguns ritmos, e o resultado é, mais uma vez, surpreendente. Não é à toa que no disco apenas são creditados programadores (Valgeir Sigurdsson, Mark Bell, Little Miss Specta, Matmos, Olivier Alary e a própria Björk), vocalistas - tais como Dokaka, Tagaq, Mike Paton, Gregory Purnhagen, Robert Wyatt, Rahzel (como "beatboxer") e um par de grupos corais (The Icelandic Choir e The London Choir) - e pouco mais. O resultado é o álbum mais conceptual de Björk, possuindo alguns pontos de contacto com os álbuns anteriores (principalmente "Vespertine"), menos acessível e menos pop (apesar de algumas aproximações) que os seus primeiros trabalhos, mas, mesmo assim, uma obra grandiosa e universal, a ouvir vezes sem conta.
É caso para dizer: Björk, sua maluca!
http://www.bjork.com/

quarta-feira, setembro 15, 2004

Apresentação

 pelO Puto 

Benvindos ao Blog do Puto.
Em breve terei aqui algumas opiniões sobre diversos assuntos, obras, produtos e outros que me vierem à cabeça, pois penso ser esse o princípio deste conceito recente.
O assunto maioritariamente visado será a música.
Para quem gosta de cinema recomendo o www.dueloaosol.blogspot.com.