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domingo, novembro 11, 2012

The Velvet Underground - The Velvet Underground & Nico (1967)

 pelO Puto 



Numa resenha que escrevi há um ano falei da importância musical dos anos sessenta do século passado como fonte de géneros e artistas que influenciaram as décadas vindouras. Bandas como os Beatles, os Rolling Stones ou os Beach Boys e compositores como Bob Dylan, James Brown ou Johnny Cash tiveram imenso sucesso nessa década e nas seguintes, tornando-se influências naturais. Mas não é o caso deste disco que destaco. Quando Andy Warhol convidou a modelo e actriz alemã conhecida como Nico para cantar no disco de estreia duma banda nova-iorquina por ele patrocinada, chamada de Velvet Underground, talvez não adivinhasse que esse álbum fosse tão longe. É certo que uma das premissas de The Factory, o estúdio colectivo por ele fundado, era questionar, revolver e expandir o conceito de arte, mas talvez a escala esperada não fosse esta. Há uma expressão, normalmente atribuída a Brian Eno, que afirma que o primeiro álbum dos Velvet Underground só vendeu 10.000 cópias, mas todos os que o compraram formaram uma banda. Apesar de ser exagerada, uma vez que o disco já vendeu bem mais que isso, faz justiça à sua importância histórica. O disco abre com “Sunday Morning”, com um linha circular produzida por uma celesta, semelhante a uma caixa de música, e um Lou Reed com timbre delicado cantando uma belíssima ode à ressaca. “I’m Waiting For The Man” pode muito bem ser o capítulo seguinte, onde um episódio sobre droga é narrado sobre uma base constante e determinada. Aliás, as experiências narcóticas são um dos motes recorrentes (“Heroin”, “Run Run Run”), mas não o único. Uma das mais belas canções de amor que conheço está aqui: “I’ll Be Your Mirror”, cantado por Nico. As referências à literatura (“Venus In Furs”, “European Son”) e ao cinema (“Femme Fatale”), entre outras, concedem uma complexidade invulgar e levam a obra para além do campo musical. Mesmo a famosa capa com a banana se tornou icónica, um dos símbolos da pop art. Mas, em última análise, é a componente sonora que mais demarca este registo. As contribuições de cada elemento da banda é fundamental: a composição e voz desconconcertante de Lou Reed, a multidisciplinaridade de John Cale, a guitarra audaz de Sterling Morrison, a percussão simples e precisa de Mo Tucker e a encantadora voz desajustada de Nico resultam num misto de experimentação, sujidade do garage rock, psicadelismo, sensibilidade pop e toadas rhythm and blues que se tornaria uma espécie de livro de instruções, onde o rock foi desconstruído e reescrito. Provavelmente, é esta variedade de estilos condensada e transformada pelo quinteto que explica a sua influência, criando um protótipo musical que muitos músicos, incluindo eles próprios nos álbuns e carreiras seguintes, iriam novamente condensar e transformar, gerando novos ambientes, correntes e formas de ver a música. Nem todos conhecemos este disco, mas conhecemos a música de alguém que os conhece bem.

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