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quarta-feira, junho 18, 2008

My Bloody Valentine - Loveless (1991)

 pelO Puto 



Sou um aficionado do chamado shoegazing. Isso não é segredo para quem me conhece os gostos musicais. Foi um movimento que se iniciou em finais dos anos 80, caracterizado pelo uso massivo de guitarra e vozes etéreas e harmoniosas embebidas no som. Os My Bloody Valentine foram grandes impulsionadores do género, editando “Isn’t Anything” em 1988, influenciando imediatamente uma série de bandas. Jogaram com os ensinamentos dos Jesus & Mary Chain, Cocteau Twins, The Velvet Underground e todo um rol de bandas pioneiras de guitarras que os precederam, criando uma abordagem diferente ao rock, onde as linhas instrumentais soavam dissonantes, angulares, densas e insistentes, mas mantendo um forte sentido melódico nas vozes.
Após esse marco, Kevin Shields, mentor da banda, entregou-se ao trabalho de estúdio para elaborar o sucessor. Qual cientista, experimentou no seu laboratório várias técnicas inéditas na guitarra, como o uso conjugado e sistemático do tremolo, o que confere uma aparente desafinação e delay, e o uso de vários níveis de distorção para criar uma infinidade de sons, alguns como tentativa de reproduzir outros instrumentos (flautas, cordas, etc,), sons esses que foram gravados para poderem ser utilizados. O volume das vozes foi reduzido de forma a se misturarem com as várias camadas de guitarra, o mesmo acontecendo com a bateria e percussões, o que tornaria difícil a percepção verbal. Há um jogo constante entre a expansão sónica e a contenção tónica, bem como um contraste temporal entre alguma suavidade e a abrasividade. O resultado desta cacofonia é a domesticação do ruído, o alargamento das fronteiras do conceito de pop/rock e uma nova contextualização da beleza. Sim, porque é esse o termo que melhor define “Loveless”: belo. Desde a alternância entre o verso vocal e o refrão de guitarras de “Only Shallow” até à dança gasosa de “Soon”, passando pelas vozes afogadas em guitarras de “To Here Knows When”, pelo apelo pop de “When You Sleep” ou “Blown A Wish”, pelo intimismo sujo de “Sometimes” e pelos epílogos instrumentais, é a beleza que se derrama nesta obra-prima que tanta gente apaixona. Pretensioso ou não, Kevin Shields criou um álbum seminal para uma imensa minoria, um tomo decisivo que se colocou na vanguarda e cristalizou um conceito sonoro, numa perfeita e hermética transposição da ideia para a obra. Ainda bem que assim foi.
“Loveless” foi um dos primeiros CD’s que comprei, pago com dinheiro ganho a dar explicações. Aquela capa sugestiva seduziu-me desde o primeiro instante. Ainda hoje me fascina e descubro algo novo a cada audição. É um dos discos que levaria para uma ilha deserta. Ou para todo o lado.
Sítio oficial dos My Bloody Valentine
My Bloody Valentine no MySpace
Videoclip de "Only Shallow"
Videoclip de "To Here Knows When"
Videoclip de "Soon"

6 Comments:

Blogger Shumway disse...

Obra-prima. O disco de uma vida.
Também iria para a ilha...

Abraço

18/6/08 10:56 da manhã  
Blogger M.A. disse...

Sendo eu outro aficionado do shoegazing, como bem sabes (os culpados foram os Ride), não sei explicar porque, durante anos, "Isn't Anything" foi o meu preferido dos MBV. É claro que com o tempo a situação mudou: "Loveless" é "só" um dos meus discos preferidos de sempre.

Abraço

18/6/08 5:26 da tarde  
Blogger Joana Amoêdo disse...

Hum, tu vais a Londres no São João:-).

19/6/08 10:21 da manhã  
Blogger extravaganza disse...

O álbum de uma vida apaixonada. Obviamente.

Querido amigo, se lá houver em 12" trazes-me um exemplar, sff? :))

(Se for autografado, tanto melhor!!)

Boa viagem e muitos beijos! Diverte-te muito, muito, muito! ;)

19/6/08 5:57 da tarde  
Blogger Hug The DJ disse...

o portento-mor.

19/6/08 11:57 da tarde  
Blogger strange quark disse...

É um álbum excepcional, que vim a descobrir já tarde e que, como referes, tem a virtude de nos surpreender com algo mais a cada nova audição.

24/6/08 11:33 da manhã  

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