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quarta-feira, setembro 23, 2009

Não piratearás!

 pelO Puto 



A propósito da descoberta de um blog lançado pela Lily Allen, em que é dada a oportunidade aos músicos que não concordam com os downloads ilegais de música de expressarem a sua opinião, dei por mim a pensar, mais uma vez, sobre este assunto. De facto, existem artistas que discordam do abuso deste tipo de downloads. Não são só as editoras e os que mais vendem que pensam assim. Um dos fortes argumentos que Lily Allen apresenta é o perigo de artistas emergentes fora do panorama mainstream não chegarem a ser contratados pelas editoras, não tendo assim acesso a melhores meios de produção nem de divulgação. Não posso deixar de concordar com isto, até certo ponto. O download ilegal massivo de música contribui para um sistema de não retribuição do artista. Sem uma promoção eficaz, e aqui incluem-se os meios cibernéticos, essa música não chegará a um público suficientemente vasto que permita que o artista viva da sua arte, através das receitas dos discos e dos concertos. Os Interpol, por exemplo, não vieram cá em 2005 devido às fraquíssimas vendas de “Antics”. Se os artistas e promotoras tiverem mais indicadores de sucesso, mais artistas poderão vir a Portugal e em melhores condições (em nome próprio e não integrados num qualquer festival de verão). Poderão dizer-me que as multinacionais são uns sanguessugas, mas esquecem-se das editoras independentes. Poderão dizer-me que as maiores receitas são as resultantes dos concertos, mas sem público suficiente não há receitas. Por alguma razão usei tantas vezes o termo “ilegal”, porque o é, e até por vezes é imoral, quer no sentido da inconsequência e indiferença, quer nas acções danosas que poderemos estar a cometer. Podemos diminuir o peso dessa ilegalidade, mas não compete apenas a nós julgar estes actos. As editoras, os governos e, principalmente, os artistas devem ter uma pronunciamento válido e convincente sobre esta matéria. Existem muitos artistas que defendem este tipo de download e até pode residir aí o segredo do seu sucesso, mas penso ser errado generalizar.
Antes que me crucifiquem, fiquem a saber que acho a Internet um meio excelente de divulgação e promoção, utilizo-a quase todos os dias, sou um fã do myspace e, sim, já fiz downloads ilegais. Mas quantos de nós, depois de o fazer, compraram os discos ou foram a concertos? Apesar do preço obsceno de muitos discos em Portugal (principalmente se compararmos o nosso poder de compra com o dos ingleses, por exemplo), continuo a ser um ávido comprador de música e espectador de concertos. Acredito na democratização da cultura, e para isso o Estado deveria ter um papel mais activo por forma a facilitar o seu acesso, mas também acho importante a nossa retribuição. Se não a um intermediário, então que seja directamente aos artistas, pois muitos deles vendem as suas obras nos seus sites. Não será com um controlo do acesso aos conteúdos ou à velocidade da Internet que se encontrarão uma ou mais soluções, mas terá que haver um acordo implícito de respeito entre os produtores e consumidores, e não uma presunção por parte destes segundos que seja prejudicial aos primeiros.

11 Comments:

Blogger bogart disse...

Tu ficas mesmo no meio das opiniões. Eu penso como tu, só que me inclino mais para a liberalização completa. É quase impossível o controlo. Por isso o importante é encontrar meios alternativos para se fazerem valer. Posso dar-te duzentos exemplos de como alguém contorna o sistema do CD nas lojas e esperar que alguém compre quando o download está mesmo ali. O Mos Def fez do disco uma Tshirt, na frente impressa a capa e nas costas a tracklist, na etiqueta vinha o código que te permite o download. Dou este exemplo e atenta que não vou buscar o demasiado conhecido caso dos radiohead do "pay-what-you-want" no InRainbows.

O mercado tem que se reinventar. É urgente que isto aconteça. Já percebemos que não é impedindo os downloads que os artistas vão fazer com que se comprem discos. Na minha opinião é fazerem-se conhecer, dar concertos e encontrarem uma forma original para "vender" a sua música.

Lembras-te como era à uma década e meia atrás? Quando o vinil imperava e a cópia em BASF mais ou menos manhosas era prato do dia? E nessa altura? era crime que espantava? Quantos de nós não conheceram bandas através da troca destes preciosos pedaços de plástico. Trocava pelo correio. Esperava de volta uma cópia deste ou daquee disco que não encontrava na nossa preciosa "Bila". Vejo o download como isso. Como as trocas de cassetes que me fazem ir a concertos e suportar a banda em questão.

O Governo taxa os discos demasiado. Ok, mas isso é outra conversa que não devemos ter aqui.

Basicamente penso como tu. Não deve ser controlado o acesso mas sim incutir a ideia de retribuição. Numa última conversa entre amigos surgiu o modelo de pagar um fee e teres total acesso aos conteudos que te apetecer.

Mas concordas comigo que a LiLy Allen está a ser um pouco uma drama queen com aquele blog. Ela e os amigos que por lá escrevem.

Abraços do Roh

23/9/09 3:46 da tarde  
Blogger O Puto disse...

Olá, Roh!

Concordo, em parte, com essa analogia da cassete pirata e do download ilegal, mas a principais diferenças são o desconhecimento entre partilhantes e a quantidade de ficheiros partilhados, que chega a ultrapassar aquilo que é humanamente possível de ouvir e assimilar. Talvez daí resulte a dimensão da polémica.
Quanto a esse sistema de pagar uma "fee", uma multa, uma comissão, uma taxa, ou que lhe quiserem chamar, poderia ter um efeito perverso, do género da extorsão que a SPA exerce cá em Portugal. Como se iriam repartir essas receitas pelos artistas de forma justa? Acho que um sistema de retribuição directa, como seja pagar os downloads directamente aos artistas ou editoras que respeitem os seus direitos e assistir aos seus concertos (por um preço adequado, claro), seria mais justo. Sem essa retribuição, nem os artistas se financiam nem as editoras (muitas delas geridas por artistas e ex-artistas) podem procurar e promover novos talentos.
Quanto à Lily Allen, que muito deve à Internet, apenas expressou, de forma legítima, a sua opinião. Duvido que ela seja amiga do Matt Bellamy ou do Patrick Wolf.

Um abraço!

23/9/09 4:12 da tarde  
Blogger bogart disse...

Li uma vez um artigo muito engraçado na pitchfork em que alguém explanava que quando entrou na gula do download não conseguia parar. Passado uns tempos deu-se conta que o seu iPod estava carregado de discos e discos que não tinha ouvido mas que tinha descarregado. Parou durante uns meses valentes para ouvir tudo o que tinha deixado para trás. Achei piada à forma em a possibilidade de fazer o tal download é tão simplificada que leva as pessoas a tirarem mais do que humanamente possível.

Outra coisa engraçada de se ver é que as gerações mais novas já não ouvem discos. Ouvem músicas a vulso. Ouvem discos sem estarem pela ordem. Eleminam aquilo que para mim é o mais importante, a coesão de um disco.

E o Patrick Wolf bem pode ir apanhar nas nalgas. Desculpa. Mas se há existe personagem na música que me mete impressão é esse ser andrógeno e foleiro que não é mais do que uma versão indie do Castelo Branco. Não tenho paciência para os dramas desse gajo. Eheheh. Vou abandonar a música. Afinal não. Raios.

Sim ela expressa a sua opinião. E o facto de eu lhe chamar idiota não vem desse lado, mas de eu achar que ela cospe na propria mão ao dizer muitas das coisas que ali diz. Nem mesmo o facto de ser filha de quem é? Podia pelo menos ser menos dramática e não reunir tropas pela a ideia de um mercado antiquado!

23/9/09 4:54 da tarde  
Blogger O Tipo disse...

Concordo com o que dizes, no entanto acho que estado possa “ajudar” (principlamnete por não lhe reconhecer competências) nesta temática, para alêm de poder descer o IVA dos produtos culturais...é óbvio que as pessoas vão continuar a fazer downloads, os artistas tem é de achar formas inventivas de promover/vender a sua música ( os artic monkeys começaram por dar cassetes nos concertos, etc...). Quanto às editoras, sinceramente não estou minimamente preocupado, pois se acabassem, acabava assim um intermediário e a história da promoção só funciona para quem eles querem, não para quem merece...as editoras indie encontraram o seu espaço e hoje em dia qq pessoa faz um disco no portátil (com software descarregado da internet) e põe no myspace/youtube/whatever...por fim, qt à Liy Allen, nunca me supreendeu, não passa de uma idiota...só tenho pena é de comentários como o do Paddy McAloon, lá se vai um mito da juventude (ainda outro dia ouvi o Steve McQueen com imenso prazer)

23/9/09 5:57 da tarde  
Blogger O Puto disse...

Roh, como muitos consumidores mais jovens não ouvem álbuns, pode-se antever o final desse formato? É certo que muitos álbuns resultam como um todo, mas os temas, por si só, têm valência. O todo é que poderá ser melhor que a soma das partes.
Então isso sobre o Patrick Wolf é coisa que se diga? Apesar de não ser fã da sua aparência extravagante e suas performances algo bizarras, não é por isso que deixo de gostar da sua música (apesar do último álbum me ter desiludido). Quanto ao Castelo Branco, há dias ouvi um tema dele e é bem melhor que muito electro pop manhoso que por aí circula.

Tipo, quando falo nas editoras, refiro-me mais às independentes que às outras. O problema é que, se as pessoas puderem optar entre pagar ou não pagar, muitas preferem não pagar e estão-se nas tintas para os artistas. Em relação a produzirem-se discos no portátil, resulta para música feita apenas com software. Muita coisa ainda tem que ser gravada no estúdio.

23/9/09 6:18 da tarde  
Blogger Ramon disse...

Olá Puto. Isto é fascinante.
Já não me recordo da quantidade de vezes que este tema foi motivo de conversa com diversos amigos. E parece-me que as posições se extremam com muita facilidade. Diziam-me há uns dias qualquer coisa como "eu também gostava de comprar cd's, mas como são muito caros e como eu gosto muito de música, faço downloads". Este argumento é extraordinário. No fundo, acho que se fazem downloads ilegais porque se pode.

Parece-me que a minha posição sobre o assunto é muito próxima da tua, não tenho bem a certeza se concorde com a parte do preço obsceno de muitos discos em Portugal.
Considero excessivo o preço (seja qual for)de um qualquer disco dos "Anjos". Mas nunca me indignei com o preço do "White Album" (comprei-o, há mais de 10 anos por 7 ou 8 contos) nem com o preço do Grace do Jeff Buckley ou das centenas ou milhares de exemplos de discos que também tu me poderias dar que têm o preço que têm e não se discute porque valem isso ou muito mais. Obviamente, seria óptimo que fossem mais baratos, mas quanto custa um Picasso? É dessa forma que eu olho para 95% da música que compro.

Segundo Theodor Adorno, a partir do momento que a música se torna um bem reproduzível em grande escala, o seu valor aumenta pois permite que as empresas (editoras e não só) tirem proveito da reprodução mecânica e da consequente comercialização em massa. Pare este autor, a música popular é o resultado disso mesmo, de uma produção em massa,
um produto estandardizado, envolvendo criatividade mínima.

Entendo, no entanto, que estamos a viver uma fase óptima e que no futura se olhará para este período como algo inédito, um período em que se ofereceu a música. Não me parece que isto seja viável no longo prazo e novas soluções aparecerão. Enquanto não aparecem, pirateiros: aproveitem. Acho mesmo que devem aproveitar. Não tenho absolutamente nada contra quem "saca" música da net.
Eu continuarei, teimosamente, a dirigir-me aos balcões da especialidade, a por a rodela no leitor, carregar no play, abrir o livrinho do cd e esperar que o disco acabe para ouvir outro.

Ps: Se me permitires, vou fazer menção ao teu texto no somqueouves.

23/9/09 10:57 da tarde  
Blogger O Puto disse...

Ramon, em relação ao preço dos CD's em Portugal, mantenho a minha posição, pois, em comparação com preços que são praticados noutros países e em algumas lojas on line, estamos claramente desfavorecidos, dado o nosso poder de compra. Acho que há limites ao preço, e cobrarem tanto dinheiro é pura especulação e falta de respeito por quem é fã. O facto de achares que um disco vale um determinado preço por causa da sua qualidade é uma avaliação pessoal, pois estou a crer que um fã dos Anjos terá outra apreciação. Não sei se será válida essa comparação com um Picasso, que é exemplar único e não reproduzível.
Para concluir, acho que quem realmente gosta de música, acaba por retribuir.
Obrigado pelo teu comentário e faz as menções que quiseres, claro. Nós agradecemos.
Abraço.

24/9/09 10:37 da manhã  
Blogger strange quark disse...

Bem, este assunto dá pano para mangas. Lá no meu estaminé este tema também já foi objecto de análise (e creio que o comentaste na altura).

Antes de mais, não é de todo possível parar com os downloads, a menos que as pessoas permitam ser vigiadas como que num mundo Orwelliano. O formato digital abriu uma caixa de Pandora que já não é possível fechar. Vaticino que o mercado, de futuro, se vai diferenciar muito distintamente entre quem consome música a metro e sem grande preocupação e os que se inclinam para a melomania. Os primeiros irão fazer downloads de tudo e mais alguma coisa, e os segundos continuarão fiéis aos formatos físicos potenciando um renascimento dos que preservam a qualidade sonora como o vinilo (OK! Se alguém quiser bater, que bata.) ou formatos digitais de alta resolução como SACD.

Creio que toda esta questão é um pau de dois bicos: por um lado os artistas são objectivamente prejudicados, mas por outro acabam por ser mais divulgados. Eu próprio, que apenas descobri a forma de fazer downloads muito recentemente, acabo por fazer alguns buscando em formato digital coisas que já tenho em vinilo (e que nem sempre tenho ocasião de ouvir) pois sinto que não quero pagar outra vez por algo que já tenho. No entanto, alguns discos tenho repetidos de facto, mas são muito poucos. Por outro lado, dou comigo a pegar e ouvir um disco todo só para descobrir se gosto daquilo ou não. Se gosto compro, se não, não! Em qualquer dos casos o dinheiro não dá para tudo e por mais que queira nunca comprarei mais do que os realmente posso pagar.

Finalmente, de referir que se faz demasiada música. Mas também não podemos chegar e decretar que há quotas de produção musical (tipo política agrícola). Isso tem potenciado, curiosamente, um renascimento do single. E na minha opinião, o futuro vai também passar por aí, até porque a história tem alguma tendência em repetir-se mas de formas diferentes. Nos anos 60 e 70 vendiam-se bastantes singles e menos LPs. Essa tal coerência do álbum era algo que, pelo menos na pop, não era particularmente procurada. O pessoal ía para o LP quando gostava particularmente de uma banda ou artista. E hoje é bem possível que vá dar no mesmo.

O que verdadeiramente mais me preocupa é a formatação de gostos e as modas. Basta olhar (ou ouvir, para ser mais preciso) para 99% da música actual para percebermos que andam basicamente todos a fazer o mesmo, procurando incessantemente uma forma de soar diferente, mas sem saber como. Ora isto acaba por ser ditado pelo tal mercado (dos downloads ilegais ou a pagar), condicionando a forma como os artistas se querem fazer ouvir. O resultado é menor diversidade musical e cultural. Para isso tomemos como exemplo o que se passa com a música nos países que se vão abrindo às influências da música anglo-saxónica. É um bocado como a sensação de ir fazer uma viagem a Pequim e deparar-se com as mesmas lojas de franchising que por aqui proliferam, e até dar de trombas com um Macdonalds no interior da Cidade Proibida. Perde-se a biodiversidade e, consequentemente, a capacidade de sobrevivência. E isto sim, assusta-me mais que tudo o resto.

Um abraço

25/9/09 1:56 da manhã  
Blogger strange quark disse...

Já agora, não é eu que seja dado a auto-promoção (muito pelo contrário), mas o texto a que me refiro no início do comentário anterior pode ser lido aqui por quem estiver interessado.

25/9/09 2:10 da manhã  
Blogger M.A. disse...

Se há coisa que me faz muita confusão nesta discussão em torno dos downloads ilegais é esta demonização das editoras, como se estas e os artistas não tivessem tido, ao longo da história, uma relação de mutualismo em que ambas as partes saem beneficiadas. Se muitas e muitos, a partir de determinado momento, passaram exclusivamente a olhar para os cifrões, já é outra discussão. E, refira-se, que isto tanto acontece nas multinacionais, como nas independentes.
Igual confusão me faz que pessoas que defendem práticas criminosas - não, não estou inocente - não valorizem a opinião da Lily Allen porque... não gostam dela!

Relativamente à descida da taxa do IVA, também aflorada neste mini-fórum, convém, antes de emitir qualquer opinião, conhecer as regras do imposto que, para quem não sabe são reguladas pela União Europeia. Que eu saiba, a taxa do IVA sobre os discos no Reino Unido também é de 20%, e não é por isso que, apesar das perdas, eles continuem a ter vendas nada desprezíveis. Não se criem ilusões: uma hipotética descida da taxa do IVA não significaria necessariamente uma descida do preço dos discos, mas sim um aumento das margens de lucro das lojas como aquela que tem promovido campanhas nesse sentido

Abraço!

28/9/09 11:16 da tarde  
Blogger O Tipo disse...

Se a directiva comunitária relativamente ao IVA dos discos for alterada (como pretendem países como a Espanha e Inglaterra) ou o governo considerar um bem cultural os discos, cobrando o IVA de 5 %, talvez o preço descesse...qt à margem de lucro, como vivemos num mercado livre e concorrencial, senão querem comprar num lado, compram noutro, ninguêm os impede...parece-me é haver tb um preconceito contra certas cadeias de venda, mas lá está, tal como disse, para quem não quer, há muito. Tendo em conta o desfecho "dramático" da campanha da LA, vê-se que era uma opinião avalizada...

29/9/09 2:56 da tarde  

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