Saul Williams - Saul Williams (2004)
pelO Puto
Saul Williams é um contestatário. Berra-nos ao ouvido o seu discurso furioso e transforma o disco num objecto de propaganda. Mas não o faz de forma convencional, através do uso exclusivo do jazz, do blues, da soul ou do hip hop. Ao invés, a sua voz negra apodera-se também e principalmente da música branca, numa espécie de "whitspoitation".
É impossível ficar passivo ao ouvir o discurso denso de Saul. Envolve histórias pessoais num contexto social, dirige fúrias a um cenário global, indigna-se com guerras micro e macroscópicas, redime-se em catarses político-raciais e não se coíbe em atacar o hip hop actual e as grandes corporações. Algures entre os Soul Coughing (por vezes lembra M. Doughty), Tricky e os Rage Against The Machine (Zack de La Rocha participa em "Act III Scene 3"). E porquê a música branca? Porque os riffs de rock "samplados", os ritmos hip hop mutantes (Mickey P dos Dust Brothers dá uma ajuda) e as sequências electrónicas por vezes saturadas concedem um nervosismo e uma agressividade que se coadunam com a avalanche de palavras, ora declamadas ora cantadas. Há alguns momentos mais serenos, mas nem por isso menos desprovidos de atitude, ironia e causticidade verbal.
É um poeta urbano como Carl Hancock Rux mas com uma urgência que até assusta. Como ele próprio o diz, I got a list of demands written on the palm of my hands.
http://www.saulwilliams.com/
Amostras: Telegram | Act III Scene 2 (Shakespeare) | Black Stacey
3 Comments:
É um disco muito pessoal, basta escutar a primeira canção "talk to strangers" para perceber os ideais de Saul Williams.
Concordo!
Tive a sorte de assistir a uma actuação dele este ano, logo acrescento que ao vivo é ainda mais furiosa e intensa toda a sua mensagem lírica e musical.
"I got a list of demands written on the palm of my hands." Nota máxima!
Apesar de tudo, é um grande algum, o single List Of Demands é muito bom.
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