Bleed my ears, please!
pelO Puto
As portas da Roundhouse abriam às sete da tarde! Neste país tudo acontece mais cedo. Depois de uma Guinness, rumei ao local, acompanhado pela Noodles, que ainda hesitou mas acabou por comprar um bilhete à porta. Como primeira parte foi escolhido o Graham Coxon, ex-guitarrista dos Blur, a solo, expondo a sua vertente mais experimental. Quando entrámos, ainda ouvimos 2 temas, nos quais esteve agachado a experimentar os pedais. O pessoal deixou de ser shoegazer para se tornar croucher?
O concerto dos My Bloody Valentine estava previsto para as nove. Era o quarto de cinco concertos em Londres, há muito esgotados, partindo depois para Manchester e Glasgow, com duas datas em cada cidade. Segue-se uma pequena digressão em festivais europeus e algumas datas nos EUA, conforme constante no site oficial. Deram-nos uns tampões para os ouvidos à entrada, mas declinei, pois aparentemente nada os justificava. Além disso, para além de atenuarem o volume, funcionam como filtro de frequências, o que não permite disfrutar do som em pleno. Enquanto esperava fui admirando a parafernália de aparelhos em palco. As guitarras estavam nos extremos e a parte rítmica ao centro. A separar os três conjuntos de amplificadores estavam umas barreiras transparentes, provavelmente para atenuar o som do instrumentos vizinhos. Intrigou-me mas compreendi que seria essa a razão. O que também achei interessante constatar foi a faixa etária da audiência, na sua maioria na casa dos trintas. Senti-me bem no meio daqueles aficionados do shoegazing.
Finalmente entraram em palco, após um atraso maior que o habitual em terras de Sua Majestade. À primeira vista, notam-se os sinais da idade, apesar dos penteados serem os mesmos. Só Bilinda parece ter o mesmo ar de menina, envergando um vestidinho branco. Atacaram "Loveless" com duas faixas onde os samples de guitarra estão bem demarcados: "I Only Said" e "When You Sleep". O coração começou a bater mais depressa e as seis cordas envolveram todo o ar do recinto. A beleza aqui presente toma proporções gigantescas, muito ajudada pelo volume altíssimo (aí percebi a medida dos tampões à entrada) e pela maior abrasividade. Fizeram questão de manter as vozes mergulhadas no mar sonoro, à semelhança do que acontece no disco. Fiquei mesmo em frente a Kevin Shields, o maestro que usou insistentemente a sua famosa técnica de glide guitar e responsável pelos exercícios mais complexos. Partiram para a abordagem a "Isn't Anything", que ao vivo leva um tratamento semelhante a "Loveless", com o som dos intrumentos a preencher todas as frequências, o que tornou mais difícil o seu reconhecimento. A "(When You Wake) You're Still In A Dream" e "You Never Should", dois temas onde a bateria de Colm O'Ciosig se exercita mais, seguiu-se "Lose My Breath", a única ocasião em que Kevin empunhou uma guitarra acústica. Avançaram para o álbum seminal, com "Come In Alone" e o mui aplaudido "Only Shallow". Dois temas mais definidos ("Thorn", do EP de estreia para a Creation, e "Nothing Much To Lose") foram sucedidos pelo etéreo "To Here Knows When", um dos momentos mais belos do concerto. Aí fechei os olhos por momentos e verifiquei que todo aquele som me colocava próximo do transe, como se o centro de uma tempestade se tratasse. Toda aquela experiência sensorial estava a deixar-me enebriado. "Slow" foi recuperado, "Blown A Wish" encantou com o sua oscilação guitarrística, e "Soon", um dos momentos altos, colocou os corpos a mexer. O dueto embebido em distorção de "Feed Me With Your Kiss" e "Sue Is Fine" fecharam a abordagem aos álbuns, guardando para o final uma versão de "You Made Me Realise", com um epílogo de mais de 15 minutos baseado numa muralha monotónica de som, como que a testar a devoção dos presentes. Ao fim de tantos anos, a tecnologia evoluiu e a experiência também, pelo que o contemplar dos sapatos já não é necessário. Debbie Googe permanecia a oscilar, concentrada em Kevin, como que à espera de algum sinal. A certa altura tive que tapar os ouvidos, pois a dor começava a manifestar-se, até ao ponto em que tive que abandonar a sala. Não os vi sair do palco, mas penso que eles me perdoam tal atitude. Afinal, apanhei um avião para os ver.
Houve muito pouca interacção verbal, um par de sorrisos por parte de Bilinda e Colm, mas a experiência que comunguei com a banda ficará para sempre na minha memória. Nos meus ouvidos ainda ficou por um dia. Felizmente os danos nestes não foram definitivos.
8 Comments:
"Aí fechei os olhos por momentos e verifiquei que todo aquele som me colocava próximo do transe, como se o centro de uma tempestade se tratasse." Percebo isto perfeitamente e podia ser a frase de descrição do teu blog. Quando se gosta muito de uma coisa ou de alguém, apanhar um avião é o mínimo :-).
Que inveja, pá! Pelo que li, os concertos anteriores, no ICA, tiveram 1.ª parte assegurada pelo Sonic Boom, a.k.a. Peter Kember. Mas o Graham Coxon tmbám não está mal escolhido, não senhor.
Abraço
Olá,
Não sei se tens "Thom Yorke and My Bloody Valentine" - Edun EP
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Ab
you lucky bastard...
C:)
Este comentário foi removido pelo autor.
Em grande. E se sabia que era o grande, muito grande, Graham Coxon a fazer a primeira parte bem que tinha ido. Digo até que ia mais por ele. Será que o velho Graham está de volta aos Blur? Será que ainda é o ex-guitarrista? Espero sinceramente que não...Cheers. Keep up the good work
incrível!! obrigado pelo relato detalhado! e da próxima vez, aceite os tampões! um abraço!
deve ter sido maravilhoso
viva o shoegazing !
e atenção aos The Asteroid N. #4
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