Azevedo Silva – Clarabóia (2006)
pelO Puto
Um artista que cante em português no panorama pop/rock nacional assemelha-se a uma mulher no mercado laboral dominado pelos homens: tem que ser melhor que os outros para se destacar e ser reconhecido. Cantar na língua de Camões sem soar foleiro é algo que requer um empenho lírico fora do comum, uma vez que se exige uma musicalidade e uma escolha de palavras bem consciente. Na língua inglesa não há tantas apreciações imediatas nem valorizações poéticas, e a prova disso é que gostamos de um tema com uma melodia cativante mas com uma letra que poderia muito bem ser, caso fosse traduzida, um tema de um artista pimba (falei de algo semelhante aqui).
Nos últimos anos alguns artistas têm-se destacado neste campo (Clã, Ornatos Violeta, Pluto, Quinteto Tati, Linda Martini), apesar de serem uma minoria. Não vou especular se será ou não comodismo os artistas portugueses cantarem em inglês (pessoalmente penso que muitas vezes não o é), mas o certo é que é preciso alguma coragem para expôr temas cantados em português, sujeitando o público ao juízo ou impressão que daí advêm. Azevedo Silva, que lançou recentemente a sua primeira demo, entitulada "Clarabóia", encaixa-se nesse perfil. Apesar desse trabalho conter apenas 2 temas cantados na nossa língua materna, ao vivo, onde o trabalho se expande, assume plenamente essa opção e esse risco. Combinado com o fino trabalho de composição, resultam belíssimos temas para voz e guitarra. São canções intimistas mas projectantes, revelando um “cantautor” promissor e talentoso.
Inicia hoje uma mini-digressão pelo norte:
Qui, 7 Dez - Casa Viva 167 [Porto]
Sex, 8 Dez - Velha-a-Branca [Braga]
Sáb, 9 Dez - Espontânea [Vila Real]
Os temas de "Clarabóia" podem ser escutados e descarregados no MySpace de Azevedo Silva.
4 Comments:
Nesta terra de poetas, quase tantos como leitores deste género literário, escrever em português requer cuidado. As letras são instrumento de afectos, de prisões, de merdas, de perguntas – Aquilo que se consegue dizer depois de pensar naquilo que se quer dizer.
Uma vez ouvi um vocalista tuga dizer, justificando a sua opção, que pensava em inglês, logo, era com naturalidade que se expressava nessa língua. Esta metamorfose linguística, só poderá ser explicada pelos melhores neurologistas.
Vamos ao extremo, 3 veteranos – Mão Morta, Sérgio Godinho e Fausto: contam-nos histórias, iludem-nos, insultam-nos e nós (alguns) somos voluntários do seu abuso, porque aprendemos a querer mais, muito mais. Simples. Sem tortura. Sem tabelas que quantificam o prazer dos outros. Sem mensagens inócuas. Já dizia Pessoa: “ Sentir? Sinta quem lê.” E ouve. Mas quem é que quer sentir?
ai este país que promove doentes mentais a torto e a direito - o Pessoa era tantan da cabeça pá!
Defecientes promovidos a quê?Tantan?! Calma, pá.
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