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terça-feira, novembro 30, 2004

Clandestino 04.12.2004

 pelO Puto 


Se estiverem por Aveiro no próximo sábado, dêem um salto ao Clandestino, um bar junto da Praça do Peixe. É que o autor deste blog vai lá estar a passar uns discos.
http://www.clandestino.pt.to/

quinta-feira, novembro 25, 2004

Post Industrial Boys - Post Industrial Boys (2004)

 pelO Puto 


Bela surpresa esta que nos chega do Médio Oriente, da insuspeita Geórgia, sob a batuta de Gogi Ge.Org (pseudónimo de George Dzodzuashvili). Residente em Tbisili, convidou (ou melhor, recrutou ou convocou) várias vozes, maioritariamente femininas, oriundas dessa cidade para verbalizar as suas composições de pop electrónico.
Embora a sonoridade seja nitidamente ocidental, com uma estrutura bastante frágil mas que não se desmorona, as letras (pelo menos as que são compreensíveis) têm um forte significado, reflectindo a realidade pós-comunista do povo geórgio, em particular das gentes urbanas. Não é à toa que faz parte de um colectivo virtual, não formalizado - a Goslab -, que se dedica à intervenção cultural.
Mas é a música que mais nos impressiona, com belos temas docemente vocalizados e vestidos de melodias algo atmosférias, a electrónica sempre presente e com alguns condimentos adicionados sob a forma de instrumentos de corda. Digno de figurar no catálogo da 4AD ou da Morr Music, este disco bilingue é um dos discos pop (pop? será?) de 2004, e revela uma elegância própria de alguns trovadores, como Gainsbourg, Hazelwood ou Cohen.
http://www.goslab.de/

A banda que não é de Stockton, CA

 pelO Puto 


Foram sem dúvida a banda indie-rock mais influente dos anos 90. Juntamente com os Sebadoh de Lou Barlow, os Pavement fundaram o movimento lo-fi, o qual teve imensos seguidores, apesar deles se afastarem progressivamente dessa estética sonora. Entre 1990 e 1999 editaram 5 álbuns e uma série de singles (algumas vezes nada óbvios) e EPs que ficaram na memória de qualquer fã de rock alternativo que se preze.
O que começou por ser um projecto de Stephen Malkmus e Scott Kannberg (a.k.a. Spiral Stairs), iniciado em finais dos anos 80, evoluiu de tal forma que se tornaram numa banda adorada por milhares, entre fãs e críticos. Nunca conheceram o sucesso a grande escala, não estavam talhados para isso, mas a descendência encarregou-se de espalhar a palavra. Um pouco à semelhança dos Velvet Underground com o disco da banana, que não vendeu muitos exemplares, mas cada comprador formou uma banda.
Após uma série de singles e EPs - compilados em "Westing (By Musket and Sextant)", de 1993 - lançados no início da década passada, editaram o seu primeiro álbum, "Slanted and Enchanted", em 1992, o qual contou com a colaboração do baterista Gary Young. Denotando algumas influências dos Sonic Youth, R. E. M. ou The Fall, dos temas sobressaía uma certa crueza na gravação e doses de distorção - os fundamentos da contra-corrente lo-fi -, bem como a deconstrução do formato canção e as letras carregadas de ironia e inteligência. Apesar disso tudo, a música possui um lado melódico pouco ortodoxo mas apelativo, e até as desafinações (seriam propositadas?) de Stephen Malkmus conseguem-se inscrever nessa esfera de sons. Não é à toa que este álbum de estreia figure frequentemente nas listas dos melhores discos da música popular.
O segundo disco, "Crooked Rain, Crooked Rain" (1994), alargou-lhes a base de fãs, muito à custa de alguns singles orelhudos (gosto desta palavra, que querem?), e foi o primeiro em que os Pavement se assumiram como quinteto, como banda em pleno, com a adição de Mark Ibold no baixo, de Steve West na bateria, de Bob Nastanovich na segunda bateria, percussões, teclados e gritos. O som estava nitidamente mais polido, revelava uma certa anglofilia, um gosto pela pop suja, e isso reflectiu-se no reconhecimento do público de cultos, principalmente do britânico, o sítio onde eles sempre tiveram mais sucesso.
Quando tudo apontava que iriam passar para o mainstream, lançam, em 1995, "Woowee Zowee", provavelmente o seu álbum mais bizarro e ecléctico. Elementos de country, jazz, punk, folk e até alguma electrónica são injectados na sua música, criando um conjunto bastante alargado de direcções musicais, mas sem nunca perder algo que os caracteriza que não sei definir - um som "Pavementístico".
O álbum seguinte, "Brighten the Corners" (1997), revela uma tendência mais rock, mais coesa, talvez mais acessível e aproximada a "Crooked Rain...", mas nunca abdica da complexidade da escrita de Stephen Malkmus nem da fragmentação frequente das canções. Produziu singles como "Stereo" e "Shady Lane", este último um hit na Ritmin (lembram-se?).
Em 1999 editam aquele que seria o último álbum, "Terror Twilight", e o único que contou com um produtor exterior à banda, Nigel Godrich (Beck, Radiohead). Este disco, integralmente composto por SM, é provavelmente o disco mais maduro, mais polido e mais sereno, e o formato canção é assumido plenamente em alguns temas. O sentido melódico é maior que nunca, fazendo deste registo uma belíssima despedida.
Todos os seus membros seguiram carreiras distintas, sendo de destacar as actividades dos seus membros fundadores - Stephen Malkmus and The Jicks, e Spiral Stairs com os Preston School of Industry.
Esta banda não é de Stockton, CA, mas do mundo inteiro, e minha também. Obrigado!
http://www.matadorrecords.com/pavement/
http://digilander.libero.it/jenkins78/links.html

segunda-feira, novembro 22, 2004

Death In Vegas - Satan's Circus (2004)

 pelO Puto 


O título deste novo álbum do projecto de Richard Fearless e Tim Holmes soa algo irónico, uma vez que "Heaven's Sleep" seria mais representativo. Não pensem que "sleep" é no sentido de disco-chato-comá-potassa, não. Digo isto apenas pela espiral hipnótica em que "Satan's Circus" nos mergulha.
As semelhanças com o shoegazing são definitivamente abandonadas (e ainda bem, pois no anterior "Scorpio Rising" essa fórmula mostrava sinais de saturação), a aproximação ao pop não se vislumbra, as guitarras assumem uma posição bastante discreta e as vozes estão ausentes, com a excepção da presença planante de Susan Delane (Woodbine) em "Heil Xanax" (olá, indução!). A electrónica domina por completo o registo, o dub é recuperado do primeiro álbum, mas apenas na sua base. Estamos perante um disco em que um aspecto é constante: a sobreposição de camadas sonoras, que vão surgindo sequencialmente ao longo de cada tema. Poder-se-ia pensar em Kraftwerk, principalmente no tema "Zugaga", mas isso seria dizer pouco. As referências vão para além disso, pois tão depressa os ritmos são fortes e orgânicos, como soam a artificial ou são camuflados em atmosferas sonoras. A estranheza inicial dará lugar à rendição final ("by your command", respondemos obedientes à hipnose).
Um marco na carreira dos DIV, a par do seu oposto mas também excelente "The Contino Sessions" (1999).
A edição especial vem acompanhada de um segundo CD, contendo a gravação áudio de um concerto na Brixton Academy, que dá uma pequena impressão das excelentes prestações ao vivo dos Death In Vegas.
http://www.deathinvegas.co.uk

Pluto - Bom Dia (2004)

 pelO Puto 


O disco de estreia da nova banda de de Manel Cruz e Peixe constitui um corte radical com a direcção musical que os Ornatos Violeta estavam a adoptar. Assumidamente mais rock, com alguns dos seus clichés mas também muitos virtuosismos, posicionando as guitarras no comando, e estas conjugam-se de forma forte mas harmoniosa. Os temas são extraordinariamente melodiosos, por vezes experimentalistas, e muito bem complementados pela voz de Manel Cruz, dos poucos lusos que consegue cantar eficazmente em português (no que diz respeito ao pop/rock, claro). As letras assumem menos protagonismo que nos OV, apesar do tema-mor continuar a ser o amor (o Manel Cruz é um romântico, o que se há-de fazer?), mas em tom menos meloso e mais incisivo. Mesmo assim há um pequeno abuso dos falsettos.
Tudo isto contribui para que a música dos Pluto seja menos imediata que a dos OV, esta mais pop e orientada para as orelhas dos refrões. As orelhas aqui apresentam-se nas 6 cordas.
Tive oportunidade de os ver ao vivo há bem pouco tempo, e a transposição para o palco é um processo natural. As canções ganham asas e as emoções estão mais à flor da pele, bem como se contrapõem a crueza e a (falsa) doçura do rock. Um dos grandes discos portugueses de 2004.
http://www.planetapluto.com

Interpol - Antics (2004)

 pelO Puto 


Depois de um registo de estreia muito aclamado ("Turn On The Bright Lights", de 2002), chegou a hora do difícil segundo álbum, a prova de fogo. As expectativas eram altas, e a pressão fez-se sentir neste novo longa-duração. Aliás, o disco acumula menos pressão que o seu predecessor: as melodias são menos cinzentas e os temas mais libertos. Afastam-se assim das supostas influências, aquelas que a imprensa insiste em associar (Joy Division, Chameleons, etc), o que poderia ser um bom sinal no sentido da procura de um som próprio, mas deixa a malta da gabardina um pouco orfã.
O álbum não começa da melhor forma, com "Next Exit", um tema pouco conseguido, apesar de reconhecível a autoria. A fasquia é elevada em alguns temas ("Evil", "Slow Hands", "C'mere", "Lenght of Love") e termina de forma melhor do que começa, mas os altos e baixos, apesar de não muito acentuados, são perceptíveis, ao contrário da homogeneidade qualitativa de "Turn On The Bright Lights". Mas não se pense que "Antics" é um álbum medíocre, muito pelo contrário. Apesar de não o colocar num pedestal ao lado do álbum de estreia, ocupa um lugar bem visível, principalmente devido à ousadia de alguns temas mais dançantes (a secção rítmica está mais musculada, sem dúvida) e ao acariciar mais subtil da melancolia.
http://www.interpolny.com/

domingo, novembro 14, 2004

Slowdive – Souvlaki (1993)

 pelO Puto 


Para além das bandas consagradas e de álbuns aclamados globalmente no mundo pop, resolvi incluir aqui algumas referências a álbuns menos conhecidos, e que poderão constituir algumas descobertas tardias para os leitores deste blog. Iniciou-se com os Puressence e continuará com outros, que talvez não primem pela originalidade ou influência, mas que para mim constituem álbuns importantes pela quantidade de vezes que os ouvi e ainda ouço. Pequenas pérolas…
Os Slowdive nasceram em pleno período do shoegazing, movimento do início dos anos 90 que parecia contrapor-se ao hedonismo e luxúria do madchester, e foi assim apelidado devido à forma como tocavam as bandas integradas neste grupo – com os olhos postos nos sapatos (como o próprio nome indica). Incluem-se aqui os My Bloody Valentine, os Slowdive, os Lush, os Curve, os Ride e os Chapterhouse. Contam-se entre as influências destas bandas os The Jesus and Mary Chain (com a sua combinação de distorção guitarrística e melodias vocais, que no shoegazing ora se contrapõe ora se redefine), os Cocteau Twins e os Spacemen 3. Os My Bloody Valentine foram quem mais se destacou, principalmente com o seminal “Loveless” (1991), que foi o ponto alto e o canto de cisne para esta banda liderada por Kevin Shields. Aliás, foi ele que compilou e compôs parte da banda sonora (não por mero acaso) do magnífico “Lost in Translation”, de Sofia Coppola, recuperando temas de bandas já citadas (J&MC, MBV) e de outros projectos influenciados por esta vaga, como é o caso dos Death In Vegas. Estes últimos até se poderiam incluir num nu-shoegazing, bem como Sigur Rós ou Pluramon.
Os Slowdive (uma das palavras de um sonho de Nick Chaplin, o baixista da banda) tiveram uma carreira curta mas marcante, iniciando as suas edições de longa duração com “Just for a Day” (1991) que lhes valeu a inclusão no citado movimento. Guitarras etéreas e vozes flutuantes tecem melodias ambientais que embalam os sentidos.
Dois anos depois editam “Souvlaki”, um belíssimo registo que evidencia uma estrutura mais próxima do formato canção, mas sem abdicar do tom ambiental. O equilíbrio é perfeito, desde o portentoso “Allison” ao intimista “Dagger”, passando pelo ambientalíssimo “Souvlaki Space Station” (um dos dois temas com a colaboração de Brian Eno) e por “When The Sun Hits”, um dos meus preferidos. As vozes apertam-nos o coração com melodias quase divinas, enquanto que as guitarras trespassam-nos o cérebro como um avião rasante, mas que admiramos após a passagem. Aqui se revelaria com mais nitidez a capacidade de composição e poder mesmerizante de Neil Halstead.
O último disco, “Pygmalion” (1995), assenta sobre terrenos mais acústicos, ainda que ambientais, e viria a apresentar-se como um prenúncio para o futuro de dois dos membros da banda, Neil Halstead e Rachel Goswell. Formaram os Mojave 3, assinaram pela 4AD (quem mais poderia fazê-lo?), e contam já com 4 álbuns de originais, sendo mais orientados para o folk ou o alternative country, mas algo se mantém intacto: a beleza das melodias que conferem a cada tema.
Apesar de pouco conhecidos, os Slowdive foram uma obsessão para Thomas Morr, patrão e fundador da Morr Music, editora dos Lali Puna, Styrofoam e Ms. John Soda, entre outros, ao ponto de querer adquirir todo o catálogo dos Slowdive (propriedade da extinta Creation Records) e de ter convencido várias bandas assinadas a interpretar temas da banda.
http://www.slowdive.co.uk/

Moodymann – Black Mahogani (2004)

 pelO Puto 


Esta é o primeiro volume de uma colectânea de alguns temas já editados e outros inéditos construídos pelo alter-ego de Kenny Dixon Jr., cuja sonoridade house o coloca num mundo à parte de muitos músicos e produtores de Detroit, mais orientados para um techno minimalista (o célebre som de Detroit).
Os samples utilizados na sua música - e que constituem, juntamente com o ritmo, a sua espinha dorsal – são de um bom gosto irrefutável e demonstram um grande conhecimento da cultura musical, em particular do soul, do jazz, do funk e até da música clássica, alguns mais reconhecíveis que outros. É precisamente nessa variedade que reside a riqueza deste registo, juntamente com a actualização de essências do passado, nunca caindo na ratoeira do facilitismo house+jazz, tão comum e sobre-explorado hoje em dia. O disco conta com as colaborações vocais notáveis de Roberta Sweed e Amp Fiddler, que conferem um condimento soul indispensável, cada qual à sua maneira.
Enfim, um álbum que se integra no grupo pouco numeroso dos discos de dança que tanto se podem ouvir na pista de dança (se bem que é dar pérolas a porcos) como no conforto do sofá.
http://www.jahsonic.com/KDJ.html

Bent - The Everlasting Blink (2003)

 pelO Puto 


Ao segundo esforço, o duo britânico formado por Simon Mills e Nani Tolliday conseguiram atingir um estado de graça e elegância, feito que não conseguiram no algo desequilibrado “Programmed to Love”, de 2001. Aproximam-se, por vezes, de referências de outrora, como os Air ou os Zero 7, mas assumem uma identidade mais própria.
O som é mais estruturado, mais suave, menos cacofónico, mais orgânico, mais embelezado, muito à custa de belos excertos e samples, com destaque para as belíssimas orquestrações. As fontes vão desde a música clássica ao country, do jazz à música infantil, de David Essex à Nana Mouskouri, contando ainda com as colaborações de Jon Marsh (The Beloved) na voz e de BJ Cole na “pedal steel guitar”.
É de lhes reconhecer a forma como reutilizam de forma engenhosa as instrumentações alheias e lhe conferem um cunho pessoal e actual.
Destaques para as faixas “King Wisp”, “So Long With You” e do mui dançável single “Magic Love”.
E já têm mais um álbum recém-editado, “Aerials”.
http://www.bent-world.com/

sexta-feira, novembro 05, 2004

Puressence - Puressence (1996)

 pelO Puto 


Recordo este disco não pela sua originalidade, nem pela sua popularidade ou influência, mas pelas canções que ficam na memória. Esta banda de Manchester editou o seu álbum de estreia em inícios de 1996, e apesar de não ter caído nas boas graças da imprensa, esse registo merece, da minha parte, uma referência.
Sem dúvida que o que chama mais a atenção nestes Mancunians é a voz de James Mudriczki, num registo em falsetto entre o suspiro e o bradar aos céus. E acreditem, é muito diferente da sua voz natural, que tive oportunidade de ouvir pessoalmente quando falei com ele no final do concerto dos Tindersticks no Coliseu do Porto, em Novembro de 1997, para os quais fizeram a 1ª parte.
O tom melancólico e negro das palavras cantadas por James Mudriczki, a guitarra abrasiva de Neil McDonald e a secção rítmica a cargo Kevin Mathews e Tony Szuminski, devem bastante aos anos 80, mais concretamente a bandas como os The Cure, The Smiths, The Chameleons, Joy Division ou até os U2, mas o som ora agressivo ora apaziguador que emana deste registo marcou esse ano de 1996. Na altura dei a ouvi-lo a várias pessoas, que passaram a palavra, e um pequeno culto formou-se. Os temas eram cantadas secretamente em conjunto, pois a beleza destas composições pertencia-nos.
Nunca é tarde para descobrir um disco (quase) esquecido, que ouço de vez em quando.
http://www.puressence.co.uk/

Devendra Banhart - Rejoicing in the Hands (2004)

 pelO Puto 


Confesso que fui um pouco preconceituoso em relação ao Devendra Banhart. Tanta boa crítica e endeusamento deste jovem de vinte e poucos anos provocou uma certa reserva por parte do autor destas linhas. Mas, após a primeira de muitas audições de Rejoicing in the Hands, verifiquei que tantos elogios tinham a sua razão de ser. Um disco que consegue ser simultaneamente encantador e assombroso, e que tanto deve à América como à Europa. O timbre de Devendra soa-nos algo familiar, como se ouvíssemos as vozes dos extintos Jeff Buckley, Nick Drake ou Elliott Smith, e possui um vibratto notável. A guitarra acústica (omnipresente) remete-nos, também por vezes, a "Songs of Love and Hate", de Leonard Cohen, como é o caso de "A Sight to Behold" ou "Poughkeepsie".
O disco revela-nos um cantautor promissor e bastante prolífero, pois editou mais um álbum ("Ninõ Rojo") recentemente na Young God, editora de Michael Gira (Swans). Tudo isto transpira genuinidade, numa das jóias de 2004, mas daquelas para usar por dentro do casaco.
http://www.younggodrecords.com/

!!! - Louden Up Now (2004)

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A princípio poderiam parecer incluir-se no movimento punk-funk, ou dance-rock, ou outra denominação qualquer, que abrange outras bandas como os Radio 4, The Rapture ou LCD Soundsystem, mas há algo mais que isso no disco de estreia desta banda numerosa residente em N. Y. (só poderia ser!). O disco realmente possui um groove e um apelo à dança irresistível, mas apesar do hedonismo a eles associado, existe um lado político na música dos !!!, muitas vezes explícito em títulos como "Shit Scheisse Merde" ou "Me and Giuliani Down by the School Yard (A True Story)". A voz de Nic Offer, algures entre o canto discreto, a declamação e o grito, um pouco à semelhança de David Byrne nos Talking Heads, transmite mensagens (não muito densas, mas poderosas) sobre a sua oposição ao (mais uma vez) presidente Bush ou ao Mayor Giulliani, entre outros. Letras que poderão parecer datadas, mas o discurso dos Clash (outra óbvia influência) também poderá parecer pouco anacrónico, e no entanto são uma referência universal.
Mas como não só de palavras se faz um disco, há que constatar que a textura musical algo hipnótica ou psicadélica dos !!! nada deve ao verbo que a acompanha. Assente na bateria, percussão e baixo, faz-se rodear de distorções e ritmos guitarrísticos (está lá o espírito indie), melodias de saxofone ou salpicos sintéticos. A voz não é o fio condutor, mas constitui parte fundamental do conjunto.
Viciante, e como bom disco pop que é, dura pouco mais que 45 minutos. E é mais um bom exemplo de que uma parte significativa da música de dança mais excitante que se faz actualmente provém do universo do rock.
Ah, e !!!, segundo os próprios, pronuncia-se repetindo 3 vezes um qualquer som percussivo monossilábico.
http://brainwashed.com/!!!/
http://www.tgrec.com/

quarta-feira, novembro 03, 2004

Elysian Fields ao vivo II

 pelO Puto 


Um belo concerto no Mercedes, apenar do formato reduzido: a voz quente (e o sorriso) de Jeniffer Charles, a guitarra eléctrica de Oren Bloedow, um par de luzes e uma mão cheia de boas canções. Deram destaque ao último álbum de originais, "Dreams that Breathe Your Name" (2004), mas houve tempo para recordar outros registos, até mesmo o EP de estreia. No final adquiri o último CD e pedi-lhes para assiná-lo (não resisti), pelo que resolvi publicar as páginas assinadas. Revelaram-se, para além de bons executantes, pessoas bastante acessíveis, interessadas e simpáticas. E sabem falar algum português: Jennifer disse que o Porto era "lindo".
E não valem as comparações com os Mazzy Star, pois a música dos Elysian Fileds é menos negra e densa, e a Jennifer Charles é mais sensual que a Hope Sandoval em palco. Acreditem, pois já vi as duas.