Para além das bandas consagradas e de álbuns aclamados globalmente no mundo
pop, resolvi incluir aqui algumas referências a álbuns menos conhecidos, e que poderão constituir algumas descobertas tardias para os leitores deste blog. Iniciou-se com os Puressence e continuará com outros, que talvez não primem pela originalidade ou influência, mas que para mim constituem álbuns importantes pela quantidade de vezes que os ouvi e ainda ouço. Pequenas pérolas…
Os Slowdive nasceram em pleno período do
shoegazing, movimento do início dos anos 90 que parecia contrapor-se ao hedonismo e luxúria do
madchester, e foi assim apelidado devido à forma como tocavam as bandas integradas neste grupo – com os olhos postos nos sapatos (como o próprio nome indica). Incluem-se aqui os My Bloody Valentine, os Slowdive, os Lush, os Curve, os Ride e os Chapterhouse. Contam-se entre as influências destas bandas os The Jesus and Mary Chain (com a sua combinação de distorção guitarrística e melodias vocais, que no
shoegazing ora se contrapõe ora se redefine), os Cocteau Twins e os Spacemen 3. Os My Bloody Valentine foram quem mais se destacou, principalmente com o seminal “Loveless” (1991), que foi o ponto alto e o canto de cisne para esta banda liderada por Kevin Shields. Aliás, foi ele que compilou e compôs parte da banda sonora (não por mero acaso) do magnífico “Lost in Translation”, de Sofia Coppola, recuperando temas de bandas já citadas (J&MC, MBV) e de outros projectos influenciados por esta vaga, como é o caso dos Death In Vegas. Estes últimos até se poderiam incluir num
nu-shoegazing, bem como Sigur Rós ou Pluramon.
Os Slowdive (uma das palavras de um sonho de Nick Chaplin, o baixista da banda) tiveram uma carreira curta mas marcante, iniciando as suas edições de longa duração com “Just for a Day” (1991) que lhes valeu a inclusão no citado movimento. Guitarras etéreas e vozes flutuantes tecem melodias ambientais que embalam os sentidos.
Dois anos depois editam “Souvlaki”, um belíssimo registo que evidencia uma estrutura mais próxima do formato canção, mas sem abdicar do tom ambiental. O equilíbrio é perfeito, desde o portentoso “Allison” ao intimista “Dagger”, passando pelo ambientalíssimo “Souvlaki Space Station” (um dos dois temas com a colaboração de Brian Eno) e por “When The Sun Hits”, um dos meus preferidos. As vozes apertam-nos o coração com melodias quase divinas, enquanto que as guitarras trespassam-nos o cérebro como um avião rasante, mas que admiramos após a passagem. Aqui se revelaria com mais nitidez a capacidade de composição e poder mesmerizante de Neil Halstead.
O último disco, “Pygmalion” (1995), assenta sobre terrenos mais acústicos, ainda que ambientais, e viria a apresentar-se como um prenúncio para o futuro de dois dos membros da banda, Neil Halstead e Rachel Goswell. Formaram os Mojave 3, assinaram pela 4AD (quem mais poderia fazê-lo?), e contam já com 4 álbuns de originais, sendo mais orientados para o folk ou o alternative country, mas algo se mantém intacto: a beleza das melodias que conferem a cada tema.
Apesar de pouco conhecidos, os Slowdive foram uma obsessão para Thomas Morr, patrão e fundador da
Morr Music, editora dos Lali Puna, Styrofoam e Ms. John Soda, entre outros, ao ponto de querer adquirir todo o catálogo dos Slowdive (propriedade da extinta Creation Records) e de ter convencido várias bandas assinadas a interpretar temas da banda.
http://www.slowdive.co.uk/