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segunda-feira, janeiro 31, 2005

Starlux - I've Been There (2005)

 pelO Puto 


A primeira edição de 2005 da Bor Land (em conjunto com a Skud & Smarty Records), uma das mais activas editoras independentes portuguesas, é também o primeiro registo de um projecto nascido há quase 10 anos. Após vários ensaios carregados de composição e improviso, denominados "sessões azuis", algumas gravações de estúdio que visavam reconstituir em registo essas sessões e a desactivação temporária da própria banda, os Starlux ressurgiram para gravar o seu EP de estreia.
Apesar da sua curta duração, este EP apresenta-nos uma banda com um som característico, a sugerir algo próximo das ambiências dos Galaxie 500, com os seus temas simples e aéreos. Os órgãos, as guitarras simplificadas, os jogos de voz, as percussões, a melancolia, tudo faz vaguear a memória e esboçar um sorriso a quem era fã da ex-banda de Dean Wareham (actualmente nos Luna), Naomi Yang e Damon Krukowski. A canção que abre o registo, para além de ser a melhor, é aquela em que as referências abrangem maior território: lembro-me também dos Yo La Tengo ou até My Bloody Valentine. Ou não fossem os Galaxie 500 um dos precursores do shoegazing e do slowcore.
A Bor Land tem um plano de edições recheadíssimo para este ano: nada mais que 12 discos, onde se incluem o 2º álbum de Old Jerusalem, álbuns de The Unplayable Sofa Guitar e The Astonishing Urbana Fall, o disco de remisturas dos albicastrenses Norton e a compilação que comemora o 5º aniversário de editora.
O programa Sons Semi-Marginais, apresentado pelo autor deste blog, promete continuar a acompanhar as edições desta editora exemplar.
http://www.bor-land.com/
http://www.skudandsmarty.com

domingo, janeiro 23, 2005

The Arcade Fire - Funeral (2004)

 pelO Puto 


O belíssimo e denso trabalho de estreia dos The Arcade Fire nasceu provavelmente da necessidade de purgação da dor, consequência natural do luto dos seus membros, como o nome do álbum aponta. A música como catarse não é novidade, mas a forma e a urgência com que os seus compositores principais - marido e mulher Win Butler e Régine Chassagne - o fazem é algo mais raro. A exposição é enorme e a intimidade é partilhada.
Através de uma boa execução, devida à educação musical dos seus membros, podem-se apreciar em "Funeral" composições majestosas, temas em dois tempos e ritmos simples. Há toda uma diversidade de instrumentos - guitarra, piano, acordeão, bandolim, cordas, flauta - que conferem riqueza a cada nota, contribuindo para o conjunto final e não funcionando como ornamento, como tantas vezes se constata por aí. A voz bamboleante, penosa e por vezes esganiçada de Win Butler contrasta com a harmonia aguda da sua esposa, contrapondo a dor evidente do primeiro com a frescura e tom esperançoso da segunda, em textos por vezes bilingues. Pensamos ouvir, aqui e ali, os Swans, os Flaming Lips ou os Joy Division, os arranjos bem incisivos não nos largam os ouvidos, as recordações de infância, os balanços e os sonhos são expostos e apontados à nossa mente, para que os possamos empaticamente visionar.
Embora a ignição do registo tenha sido a morte e a melancolia domine o som, é a lembrança e a presença do amor que serve de motor para toda a vida e para este trabalho em particular, que lhe injecta a força necessária.
http://www.arcadefire.com/

sábado, janeiro 22, 2005

Mão Morta - Sessões de Inverno

 pelO Puto 


Foi com algum aparato cénico que os Mão Morta iniciaram o seu concerto ontem, no Teatro de Vila Real, integrado na digressão "Sessões de Inverno". Faz sentido a distinção entre estas e as anteriores "Sessões de Outono", ocorridas em bares em vários pontos do país. Parafraseando o próprio Adolfo Luxúria Canibal, as de Outono serviam para "pôr o pessoal a saltar e pôr os braços no ar", as de Inverno para "vocês apreciarem sentados". Já passaram por auditórios em Coimbra, Lisboa (ver excelente comentário de gonn1000), e ainda irão a Arcos de Valdevez e Tomar.
A abertura e fecho do concerto (excluindo o encore) foram preenchidos com a primeira e última faixas do último álbum, "Nus" (o épico "Gumes" e o inusitado "Morgue", estreia de Sapo na composição). Este último álbum esteve em especial destaque, uma vez que foi tocado na íntegra. A escolha dos temas primava por uma certa lentidão rítmica, por forma a atenuar a vontade de estar de pé. O repertório ainda passou por temas mais ou menos antigos, como foi o caso de "Anjos de Pureza" (de "Há Já Muito Tempo Que Nesta Latrina O Ar Se Tornou Irrespirável", 1998), "Velocidade Escaldante" ("Vénus Em Chamas", 1994) ou "Paris (Amour A Mort)" ("Mutantes S21", 1992), mas focou-se essencialmente nos dois últimos álbuns de originais e no que de melhor continham, não caindo no facilitismo de canções mais expostas.
Uma faceta dos Mão Morta que ainda não conhecia mas que apreciei bastante.
http://www.mao-morta.org

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Carl Hancock Rux - Apothecary Rx (2004)

 pelO Puto 


O poeta (tem vários livros publicados) e músico norte-americano Carl Hancock Rux editou no ano passado o seu segundo álbum, seis anos depois da sua estreia nas edições discográficas e de algumas participações em trabalhos de outros (Jon Brown, Yukihiro Fukutomi, David Holmes, DJ Spooky, Stephanie McKay). Retorna com um disco (os segundos são sempre a prova de fogo de qualquer artista) que corresponde às expectativas criadas pelo primeiro, e penso que até as supera. Convidados não faltam, como é o caso de Chocolate Genius (alter ego de Marc Anthony Thompson, conhecido pelo seu trabalho com Marc Ribot, ex-Lounge Lizards e habitual colaborador de Tom Waits), do guitarrista Dave Tronzo (conhecido pela sua forma singular de utilizar a slide guitar), do exímio violinista Leroy Jenkins (lenda do free jazz, tocou com outros nomes ilustres, como Ornette Coleman ou Alice Coltrane) e do brasileiro Vinicius Cantuária. O toque destes mestres é bem perceptível ao longo do disco, pois os instrumentos que os tornaram famosos destacam-se de forma escorreita das composições que integram.
Disco ecléctico no verdadeiro sentido da palavra, no qual é curioso o contraste entre a geodiversidade da textura instrumental e vocal, e a temática abordada na poesia de CHR. A base é a música negra em muitas das suas vertentes - blues, hip-hop, soul, r'n'b, dub, jazz, afro-beat -, sobre a qual Carl enfatiza e reflecte sobre as diferenças sociais, raciais, religiosas e outras, mas sempre em contextos bem urbanos. Tudo isto é amplificado num gospel, que para muito contribuem os coros providenciados por Stephanie McKay, Helga Davis e Marcelle Lashley (excelentes intérpretes), enquanto Carl canta e declama síncrona ou paralelamente. Poderiam vir à ideia outros artistas da spoken word, como Ursula Rucker, mas aqui o medicamento é de largo espectro.
Mais um que escapou ao top ten de 2004 por audição não atempada...
http://www.carlhancockrux.com/

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Tops V - o escrutínio final

 pelO Puto 

Divulgo finalmente o resultado da votação a que submeti os discos, canções, videoclips e concertos de 2004.
Os meus sinceros agradecimentos a fragmentos, sobretudo, lyric, Sandra, Astronauta, JGSC, pedro, staring elf, Harry_Madox, Rui, monstro horrendo AdamastoR, Mouco, PALU, pedroreis, Miss Rock e Rui G pela participação, pois sem eles não seria possível publicar estas listas.

Álbuns estrangeiros

1. Cocorosie - La Maison De Mon Rêve
2. Franz Ferdinand - Franz Ferdinand
3. Modest Mouse - Good News For People Who Love Bad News
3. Scissor Sisters - Scissor Sisters
5. Air - Talkie Walkie
6. Elliott Smith - From A Basement On The Hill
6. TV On The Radio - Desperate Youth, Blood Thirsty Babes
8. Feist - Let It Die
9. The Streets - A Grand Don't Come For Free
10. Junior Boys - Last Exit
11. Devendra Banhart - Rejoicing In The Hands
12. Liars - They Were Wrong So We Drowned
13. Kings Of Convenience - Riot On An Empty Street
14. Interpol - Antics
15. Lambchop - Aw C'Mon/No You C'mon
16. Morrissey - You Are The Quarry
17. Tom Waits - Real Gone
18. Dani Siciliano - Likes...
19. The Band Of Blacky Ranchette - Still Lookin' Good to Me
20. The Arcade Fire - Funeral

Álbuns portugueses

1. Hipnótica - Reconciliation
2. Rodrigo Leão - Cinema
3. Gomo - Best Of
4. Loto - The Club
5. Quinteto Tati - Exílio
6. Dead Combo - Vol. I
7. Wray Gunn - Eclesiastes 1.11
8. The Gift - AM-FM
9. Mão Morta - Nus
10. Bulllet - Torch Songs For Secret Agents

Colectâneas e compilações

1. V/A - Lost In Translation
2. Gotan Project - Inspiracion-Expiracion Remix
2. Lamb - Back To Mine: The Voodoo Sessions
2. Playgroup - Reproduction
2. V/A - The Late Great Daniel Johnston
2. V/A - Zen CD

Singles e canções estrangeiras
1. The Killers - Somebody Told Me
2. Franz Ferdinand - Matinee
2. The Libertines - Can't Stand Me Now
4. Franz Ferdinand - Take Me Out
4. Kelis feat. Andre 3000 - Millionaire
4. Morrissey - The First Of The Gang To Die
4. The Divine Comedy - Our Mutual Friend
8. Duran Duran - What Happens Tomorrow
8. Kelis - Milkshake
8. Kings of Convenience - Gold in the Air of Summer
8. Snow Patrol - Spitting Games

Singles portugueses
1. Da Weasel - Re-tratamento
1. Pluto - Entre Nós
3. Clã - Carrossel dos Esquisitos
3. Loto - Celebration

Videoclips
1. Fatboy Slim - Slash Dot Dash
1. The Streets - Blinded By The Light
3. Franz Ferdinand - Take Me Out
3. Franz Ferdinand - This Fire
5. Kylie Minogue - Chocolate
5. Soulwax - E Talking

Concertos
1. CocoRosie no Passos Manuel
1. Kraftwerk no Coliseu dos Recreios
1. Moloko no Optimus.Hype@Meco
1. The Kills em Paredes de Coura
5. Duran Duran na Wembley Arena (Londres)
5. Elysian Fields n’O Meu Mercedes…
5. Lhasa no Palácio de Cristal
5. Pixies no Super Bock Super Rock

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segunda-feira, janeiro 10, 2005

The Magnetic Fields - i (2004)

 pelO Puto 


O mais recente disco da banda de Stephin Merritt marca o regresso à composição de love songs, depois de ter publicado 69 delas em 1999. A perda, as dúvidas, o desencanto, a esperança, as possibilidades e tudo o que naturalmente gira em torno do amor são os temas abordados em 14 composições breves. Facto curioso é o conceito por trás do nome do álbum: todas as canções começa por "i", e muitas delas são auto-centradas (o I). Isto não é propriamente algo que cause surpresa, uma vez que tudo nos Magnetic Fields é controlado por Stephin Merritt.
As vozes principais ficam a cargo do senhor maestro-compositor, ficando a voz de Claudia Gonson, presença algo assídua em "69 Love Songs", remetida para alguns coros. Há algum afastamento do electro-pop dos registos anteriores, apesar de os instrumentos utilizados - com especial relevo para o violoncelo e para a guitarra "bandolinizada" - estarem matematicamente encadeados, como se de programações se tratassem. Mesmo assim, descortinam-se algumas aproximações a outras (possíveis) influências de Stephin Merritt, como os Beach Boys ou os Divine Comedy (ou Scott Walker e Burt Bacharach, se preferirem).
No final, o que nos fica na memória (e não a abandona) são as novas melodias viciantes que os Magnetic Fields nos presenteiam, a aliviar-nos da ressaca prolongada das outras 69.
http://www.houseoftomorrow.com/

Back in black

 pelO Puto 

Não, não é uma referência aos AC/DC, mas sim um pedido de desculpas por tão longa ausência nos apontamentos aos discos. Mas já aí vem um.
Quanto à votação dos melhores de 2004 em termos de música, resolvi dar mais uns dias, mas o 1º lugar é quase indestronável. Publicarei os resultados brevemente, ficando para já exposto o algoritmo que apurará o ranking:



Ah, e black é, para quem não reparou, uma alusão à cor de fundo do blog.

terça-feira, janeiro 04, 2005

Tops IV - os meus outros

 pelO Puto 

Caros amigos e leitores
Resolvi abrir uma excepção e tocar noutro assunto que me apaixona: o Cinema. Mas apenas a abri para expor os meus tops de 2004 (esta mania já se alastrou a outros campos). Grande parte foi-me aconselhada pelo meu amigo e guru da crítica cinematográfica, o anfitrião do blog Duelo ao Sol.
Sei que é imperdoável, mas no ano que passou não vi muitos filmes, e ainda me faltam ver, entre outros, "Bully", "Olhem para mim", "Alguém Tem Que Ceder", "American Splendor", "A Estação", "Belleville Rendez-Vous", "Má Educação", "A Minha Vida Sem Mim", "As Leis da Atracção", e "Noite Escura".
Dos que vi, arranquei estas classificações:

Melhores filmes
1. Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho [Deus está nos pormenores]
2. Before Sunset - Antes do Anoitecer [o espelho de uma geração]
3. Big Fish - O Grande Peixe [o sentido da vida]
4. The Village - A Vila [a beleza e o misticismo do recôndito]
5. Eternal Sunshine of the Spotless Mind - O Despertar da Mente ['estórias' que não lembram ao Diabo]
6. 21 Grams - 21 Gramas [o destino e sua ironia]
7. Kill Bill: Vol. 2 - Kill Bill - A Vingança - Vol. 2 [truques, honra, olhos esmigalhados and less blood]
8. Spring, Summer, Fall, Winter... and Spring - Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera [uma fábula]
9. In The Cut - Atracção Perigosa [frio, frio, quente, quente]
10. Fahrenheit 9/11 [a verdade da mentira, ou vice-versa]

Melhores Actrizes
1. Bryce Dallas Howard n'"A Vila"
2. Julie Delpy em "Antes do Anoitecer"
3. Uma Thurman, claro está, no "Kill Bill 2"
4. Naomi Watts em "21 Gramas"
5. The City of Los Angeles in "Collateral"

Melhores Actores
1. Bill Murray em "Lost In Translation"
2. Joaquin Phoenix n'"A Vila"
3. George W. Bush em "Fahrenheit 9/11" (nem o Jerry Lewis faria melhor)

A Grande Desilusão do Ano (para não dizer o Pior Filme do Ano)
"The Brown Bunny"

Obrigado e sejamos solidários.

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