Após um álbum algo decepcionante ("Come With Us", de 2002), já tinha começado a pensar que os Irmãos Químicos estariam na curva descendente da qualidade e aceitação. O duo responsável pela ponte poderosa entre os fãs de
rock e os convictos da
dance music (eu sei, isto é um
cliché), e que produziu clássicos modernos como "Leave Home", "Block Rockin' Beats" ou "Hey Boy Hey Girl", parecia ter a chama criativa a apagar-se, a demonstrar algum desleixo e a sucumbir à tendência moribunda do
big beat, de cuja génese participaram.
Felizmente editaram posteriormente dois
singles redimíveis, "The Golden Path" e "Get Yourself High" (excelentes colaborações), incluídos numa compilação, que encheram de esperança quem os julgava a meio caminho da gaveta musical.
E eis que o novo álbum aparece, pronto a ser julgado. Tem um bom início, com um
single pouco característico. Q-Tip (dos extintos A Tribe Called Quest) acompanha a batida em meio-gás e as cordas orientais de "Galvanize", com um resultado eficaz, à semelhança da experiência anterior com K-Hole em "Get Yourself High". Possui momentos mais
downtempo, melódicos ou ambientais, como é o caso de "Hold Tight London" (com Anna Lynne na voz, como que a substituir Beth Orton), "Close Your Eyes" (aproximação ao
r'n'b com os The Magic Numbers) ou o tema que encerra o álbum, "Surface To Air", com algo a lembrar o
ambient techno (embora evolua para algo mais forte). E também inclui no seu alinhamento o tema mais politizado dos Chem Bros, graças à participação do
rapper Anwar Superstar, com o seu discurso anti-militarista, sobre batidas
hip-hop (vem-nos à memória aquele tema dos Leftfield com o Roots Manuva).
Mas o som que tanto os caracteriza, na sua vertente mais rica (paragens, arranques e temas
non-stop incluídos), também se encontra por aqui. "The Boxer", com Tim Burgess, a acompanhar o registo pop próximo dos seus Charlatans. O vocalista da nova coqueluche britânica, os Bloc Party, a penar sobre o poderosíssimo "Believe". Os instrumentais, tais como "Come Inside", "The Big Jump" e "Shake Break Bounce" a contagiar ao cérebro dançante. E a descobrir que as guitarras são instrumentos bastante versáteis, colando-se ao seu som inconfundível com resultados algo surpreendentes.
Este trabalho está um pouco abaixo da fasquia dos dois primeiros álbuns, os mais emblemáticos, mas denota alguma evolução, mexe com o corpo e com a mente, e permite ainda que os fãs anseiem por mais trabalhos futuros.