Um dos 3 colegas com que partilho o gabinete resolveu apaixonar-se por uma música e ouvi-la em
Repeat. Como não tem uns míseros auscultadores resolveu partilhar durante duas horas esta paixão assolapada. Apesar disso não protestei porque uma das coisas que mais me fascina é descobrir uma qualquer música que por alguma razão, por mais parva que seja, um belo dia me dê vontade de a ouvir até à exaustão. Mas não é uma coisa de que me vá gabar no bar aos meus amigos: "Eh pá pessoal, hoje ouvi 20 vezes seguidas o 'Candle in the wind' do Elton John". De certeza que se faria um silêncio incómodo até que um amigo me libertaria do suplício dizendo "Viram as mamas da empregada?". Definitivamente ouvir uma música em
repeat é uma experiência íntima e inconfessável. Íntima, porque as probabilidades de apetecer ouvir em
repeat uma determinada música a mais do que uma pessoa são ínfimas e a acontecer seria, imagino, uma experiência
zen digna de figurar na revista
Xis do
Público. Inconfessável porque, pelo menos a mim, quase sempre acontece com músicas parvas, de bandas de que não sou particularmente fã. Posso no entanto confessar que a última música que ouvi em
repeat foi o 'I Wonder' do Gomo. Esta música tem um refrão irresistível, a letra fala de um amor não correspondido num tom melancólico que causa fascínio em qualquer português. Mas não foi tanto a música que me fez um
click no cérebro, foi mais associá-la ao brilhante vídeo de Rui de Brito, em que Gomo vai destruindo todos os equipamentos informáticos que lhe aparecem à frente com um taco de basebol, enquanto destila a sua dor de corno. Ouvir esta música no trabalho enquanto me imagino a pegar nos servidores
HP que pesam uns 500 quilos e atirá-los pela janela com a cablagem agarrada é libertador.
http://www.ruidebrito.blogspot.com/http://gomoland.blogspot.com/http://www.gomo.cc/