Annuals - Be He Me (2006)
pelO Puto
Quando ouvi pela primeira vez os Annuals, fizeram-me lembrar os Arcade Fire. São seis elementos que tocam rotativamente uma parafernália de instrumentos, imprimindo na sua música uma honestidade avassaladora e uma grandiosidade meio desajeitada. Apesar de comungarem de muitas influências (de David Bowie a muitos nomes relevantes do indie pop/rock), os jovens (muito jovens mesmo) da Carolina do Norte conseguem ser mais oblíquos e excêntricos que os canadianos, conseguindo com isso afastar-se do barco sobrelotado do pós-punk.
Este disco de estreia intrigou-me. Os temas, compostos por Adam Baker (vocalista e candidato a pequeno génio), são densos, carregados de sons provenientes dos mais diversos instrumentos acústicos, eléctricos e electrónicos (guitarra, baixo, bateria, percussão, cordas, piano, órgão, teclados, sequenciadores, samplers, processadores de efeitos, etc.), parecendo caóticos a um ouvido destreinado. As vozes tanto podem ser susurros como podem ser coros, cantados em tom mais esganiçado ou mais lírico. No meio desta aparente desordem, descobre-se uma estrutura organizada, ou seja, uma espécie de barroco esquizofrénico, que nos leva a descobrir mais qualquer coisa a cada audição. Mesmo quando, em certas alturas, o conjunto se parece ter simplificado, apanha-se com uma bofetada sonora que faz acordar um morto. Um só tema encerra contenção e extravasão, deliciosas melodias e dissonâncias, beleza e estranheza. Apesar de tudo, este álbum transmite-me um sentido positivo e um brilho que só uma certa inocência pode irradiar.
Ao contrário dos Arcade Fire, que remam todos para a mesma direcção, os Annuals apontam em várias direcções, mas também acabam por chegar ao destino. Não me perguntem porquê, mas se estas 2 bandas fossem substâncias, os Arcade Fire seriam sólidos e os Annuals líquidos.
Sítio oficial dos Annuals
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Videoclip de "Brother"
Amostras: Dry Clothes | Bleary-Eyed | The Bull, and the Goat