O caso do sucesso dos Arcade Fire reflecte também o sucesso da divulgação de música via
internet. Pelas comunidades de cibernautas, a disseminação do culto foi crescente e foi um dos casos pioneiros de êxito das novas tecnologias. “Funeral”, o álbum de estreia, foi lançado em Setembro de 2004 e foi sendo conhecido por um número crescente de pessoas. Tal justificou posteriores edições em vários pontos do mundo nos inícios de 2005, tornando mais acessível o formato físico do disco. Algo arrebatador prendia o ouvinte à música do colectivo canadiano, quer seja pelo produto de valor acrescentado de influências como David Bowie, Talking Heads ou a vaga pós-
punk de inícios dos anos 80, quer seja pelo resultado repleto de paixão e inocência. Complementarmente, como se pôde verificar no concerto em Paredes de Coura (2005), actuam de forma explosiva e projectam na audiência uma energia empática que fortalece os laços entre os intervenientes. Por tal motivo, havia grandes expectativas em relação ao segundo álbum.
Poder-se-ia esperar que o sucessor fosse assombrado por um comodismo, ou então por alguma cedência às pressões do sucesso e do estatuto, mas felizmente não foi isso que sucedeu. Os meios colocados à disposição do grupo redundaram numa concepção e produção que exponenciou a grandiloquência embrionária presente em “Funeral”. A paixão está lá, mas agora evoluiu-se para algo mais cerebral. Os elementos acrescentados, desde a multiplicidade rítmica ao estado sublime dos arranjos, passando pelo
gospel, adensam o som de tal forma que se tange uma espécie de êxtase. Compare-se a versão original do tema “No Cars Go”, incluído no EP homónimo (já por si bom), com a abordagem aqui incluída e repare-se no notável melhoramento. Mesmo quando a voz de Win Butler parece afogar-se na sinfonia, sente-se que esse afundamento é doce, o que parece valorizar o seu esforço em prol da exposição da sua fragilidade. Destaco a intensidade dos temas, a assertividade ingénua das letras e o jogo natural entre a simplicidade e a complexidade. O que se perdeu em inocência ganhou-se em sumptuosidade.
Não se poderá nem se deverá fazer, para já, uma comparação directa dos dois trabalhos, pois é indispensável uma maturação do segundo, mas quase que posso assegurar que os Arcade Fire têm lugar marcado na história da música popular.
Nota: segundo as tabelas oficiais, “Neon Bible” ocupou os lugares cimeiros dos tops de vendas um pouco por todo o lado, incluindo uma segunda posição cá em Portugal.Sítio oficial dos Arcade FireArcade Fire no MySpaceVideoclip de "Intervention"Amostras: Keep The Car Running | Windowsill | No Cars Go