Na primeira metade da década de 90 o
rock tinha sido dominado pelo
grunge, pilhando para si a designação do
rock alternativo (nunca mais este termo pôde ser utilizado literalmente), relegando todas a outras facções para segundo plano (ou terceiro ou quarto...). O
indie rock era sustendado pelas figuras tutelares do
lo-fi (Pavement, Sebadoh) e aquilo que de mais excitante acontecia jogava no campo das músicas electrónicas. Só no início do novo milénio é que o
rock se revitalizou a nível global, colocando novamente as guitarras na ribalta.
Há 10 anos, quando foi lançado o quarto álbum dos californianos Swell, 4 anos conturbados tinham passado desde a última edição. Nesse período a banda foi dispensada pela American Recordings e a Beggars Banquet acolheu-os. "Too Many Days Without Thinking" é, a meu ver, é o ponto alto da carreira dos Swell e, simultaneamente, um disco marcante. Para além de todas as suas virtudes (já lá iremos), decretou a morte do
grunge (o tema "Fuck Even Flow" é mais que explícito e o título do álbum é subtil nesse aspecto) utilizando as armas que garantiram o seu sucesso. Com uma douta inspiração, os Swell aproveitam e domesticam o som de Seattle, juntam-lhe elementos derivados da
folk, do
indie rock via Pixies, do psicadelismo, do
lo-fi e da facção
slowcore, acelerando esta última até obter um conjunto de canções com requinte e alma. A voz grave, ancorada e emocional de David Freel descreve pequenas histórias e reflecte sobre possibilidades, influindo melancolia como axioma musical. A composição, sabiamente polida pela produção de Kurt Ralske, mentor dos Ultra Vivid Scene, é dominada pela guitarra acústica, estendendo-se esta num plano constituído pela guitarra eléctrica, pelo ritmo apelativo e por alguns sintetizadores oportunos. O resultado, desde a forte e oscilante "Throw The Wine" à belíssima e luminosa "Sunshine Everyday" (uma das minhas canções preferidas de sempre), é um desfile lógico e coerente de composições pejadas de emoção, talento e atitude.
Considero este álbum muito injustiçado pelo público, pois deveria ter tido mais sucesso (tinha todas as razões que tal acontecesse), mas provavelmente influenciou a bandas como Grandaddy, Gomez, Sparklehorse, Modest Mouse ou Midlake. É um grande disco que vencerá os rigores da efemeridade.
O Joe (
Classe de 70) descreveu muito bem a importância deste disco
neste post.
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