É raro eu querer ver uma banda mais que uma vez por ano, mas os Interpol deixaram-me uma boa impressão no SBSR. Quando anunciaram a primeira parte, nem hesitei em comprar o bilhete, apesar de apenas 4 meses separarem as duas datas.
Quando os Blonde Redhead entraram em palco, o Coliseu ainda não estava lotado. Munidos de parcos meios, uma vez que são apenas um trio afogado em equipamento alheio, deram um concerto breve mas cativante, apoiado nos três álbuns mais recentes. De “Misery Is A Butterfly”, álbum que introduziu ao seu mundo, reconheci “Falling Man” e “Equus”, sendo este último uma canção inspirada no acidente que a vocalista Kazu Makino sofreu devido a um cavalo e que motivou o hiato de 4 anos desde “Melodie of Certain Damaged Lemons”. Foi com um tema deste disco que iniciaram o alinhamento, e o público que os desconhecia ficou logo a perceber que electricidade e doçura eram a imagem de marca da banda. Apesar da qualidade técnica do som os prejudicar, principalmente nos temas mais densos, penso que conquistaram a audiência com a beleza dos temas e a carga sónica que a suporta, tornando apoteótico o final com “23”.
Às dez e pouco entraram os tão aguardados conterrâneos, para gáudio de um público numeroso e de várias idades, desde os adolescentes aos trintões, demonstrando que é uma banda transversal, juntando na mesma audiência aqueles para os quais apenas o disco de estreia é relevante, os que se deixaram conquistar tardiamente por “Our Love To Admire” e os restantes que acompanham e (ainda) apreciam uma das bandas mais importantes do neo-ou-raio-que-o-valha-pós-
punk, nos qual me incluo. “Pioneer To The Falls”, a melhor faixa do álbum recente e tal como no SBSR, abriu a prestação e arrebatou. O alinhamento foi bastante equilibrado, com incursões em todos os álbuns, sendo que os temas de “Turn On The Bright Lights” induziram reacções mais entusiásticas, apesar de bem localizadas. A meu ver, houve um número excessivo de abordagens a “Our Love…”, e o momento de devaneio psicadélico chamado “The Lighthouse” esmoreceu-me a atenção. No aguardado encore, tocaram “Take You On A Cruise”, uma das minhas preferidas de “Antics” que foi esquecida em Julho, e concluíram da melhor maneira com um cruzar em filigrana de dois temas excelentes: “Stella Was A Diver And She Was Always Down” e “PDA”, os quais recuperaram a energia do grupo em que me incluía, com proto-
mosh incluído.
Apesar de alguns defeitos técnicos e da métrica do registo ao vivo não diferir muito dos discos, estes nova-iorquinos tiveram o público nas mãos e as pessoas retribuiram, e não foram precisas grandes oralidades para que a comunicação se estabelecesse. A música é a mensagem, o ritmo forte e demarcado é o contexto, o estilo é a linguagem, a melancolia afiada é o meio através do qual os estados de alma comungam. Ainda são uma banda com nome próprio que revolve as pessoas. E, para que não restem mais dúvidas com a famigerada similaridade e se resolva isto de uma vez por todas, aqui ficam umas diferenças bem evidentes entre duas bandas porta-estandarte sobejamente conhecidas.
Joy Division
1. Não se incluíam num contexto musical favorável, pois o tom cinzento da sonoridade era um reflexo de uma época e de uma forma de estar.
2. Não lidaram bem com o sucesso.
3. Nasceram do
punk e levaram-no mais além.
4. A urgência, a sonoridade nervosa e a inquietude foram uma constante.
5. Raramente utilizavam o jogo das duas guitarras.
6. A voz de Ian Curtis nunca se assemelhou à do Michael Stipe.
Interpol
1. O acessível e o significante estão envoltos num cenário urbano-mas-não-tão-depressivo.
2. A fama até lhes assenta bem.
3. Compensam a menor originalidade com um maior rol de influências, que vai para além dos anos 80.
4. A consciência e a sobriedade dominam e o controlo é imagem de marca.
5. Raramente incluem longas linhas sintéticas às suas composições.
6. Paul Banks nunca soou a Jim Morrison.
Tenho dito!