Os islandeses Múm deslocaram-se a sul para apresentar o novo álbum sob a nova formação. Harmonias vocais e diversidade instrumental marcam este nova fase da banda. O timbre dos três vocalistas encaixam-se de forma eficaz, envoltos no tecido sonoro construído por eles e pelos restantes membros. Bateria descompassada, guitarra atmosférica, piano lento e percussivo, baixo pulsante e forte, melódica activa, trompete etéreo, violino e violoncelo vagueante, flauta compenetrada, tudo contribui para as várias camadas, ora independentes ora cruzadas, e de andamento geralmente lento, que hipnotizaram a audiência, com as luzes a complementar. Afastam-se normalmente do formato canção, preferindo ambiências pastoris, experimentais ou psicadélicas, mas envolvendo tudo numa aura de inocência e alegria que não representam, de forma alguma, as paisagens gélidas do país de origem. Os temas são luminosos e melódicos, os hinos à dança e ao
rock'n'roll são apenas referências, mas o apelo rítmico esteve presente, se bem que a uns
bpm abaixo do habitual. Demonstraram descontracção, empenho e humor em palco, interagindo com o público em dose moderada. Uma boa surpresa.
Confesso que pouco ou nada conheço dos Pere Ubu, mas esta banda de culto originou uma pequena peregrinação de fãs de todo o país. A música define-se algures entre o
punk/garage/blues e um
rock arty com
spoken word, entre o abstracto e o estruturado, com omnipresentes sons do sintetizador
vintage, sempre pautada pelas letras incisivas e a liderança (eu quase diria tirania) do vocalista e mentor, David Thomas, um senhor nos seus cinquentas, com ar anafado e algo demente. Derramou o seu humor cáustico sobre a audiência e sobre vários ícones
pop/rock, como Justin Timberlake ou Britney Spears. Nos interlúdios entre temas e mesmo durante estes, falou sobre a inexorabilidade do tempo, chamou inadmissível ao facto de haver uma cerveja tipicamente portuguesa com nome inglês, insultou alguém supostamente intocável ("Fuck Thom Yorke", incitou), repreendeu quem quis acompanhar os temas com palminhas (palmas para isso) e bebeu uns tragos generosos da sua garrafa de bolso. Mais uma boa surpresa.
Para o mês que vem teremos Vitalic e Twisted Charm, e em Abril os The Kills.