Este foi único dia em que me desloquei à Praia do Tabuão, uma vez que achei que valia a pena por todas as bandas que lá actuariam.
Os australianos The Temper Trap iniciaram energicamente o conjunto de concertos, com uma destreza rítmica bem acompanhada pelas composições cativantes que, aos poucos, foram conquistando o público crescente.
The Pains of Being Pure at Heart, apesar de alguma desafinação vocal, transpuseram bem para o palco o seu disco de estreia. As múltiplas influências dos anos 80 e 90 destiladas em belas melodias são o principal encanto destes nova-iorquinos. Ainda assim, a prestação ao vivo deixou um pouco a desejar, revelando uma banda com pouca rodagem. Como ainda têm um repertório reduzido, a prestação acabou antes do tempo previsto.
Após o crepúsculo, entram os The Horrors, que, a boa hora, vieram substituir os The Rascals. Trazem na mala o novo disco, "Primary Colours", aquelas que, misturadas, compõem o preto e o branco das suas composições. O visual, apesar de negro, afasta-se da imagem algo
clown fantasmagórica de "Strange House", e isso também se reflectiu na escassez da abordagem a este álbum. Penso que deste apenas tocaram "Count In Fives", que, curiosamente, foi o tema mais aplaudido. A presença do ingrediente
shoegazing em "Primary Colours" concede uma envolvência mais narcótica ao registo, mas a evolução entre os álbuns é natural, pois o negrume dos Joy Division ou a irreverência dos Cramps está lá impressa, mas vem associada à desconstrução estruturada dos Jesus & Mary Chain e dos My Bloody Valentine. Faris Rotter (Bruno Nogueira
alike?) foi comunicativo q.b. e o som esteve bem do ponto de vista técnico.
A multidão foi-se adensando para ver Supergrass, um concerto que prometia, pois, em mais de 15 anos de carreira, nunca tinham pisado um palco português. Diga-se de passagem, foi um dos melhores concertos do dia, senão o melhor. Munidos de 6 álbuns de originais, percorreram todos de forma equilibrada. De louvar a energia da banda, obviamente admirada por tanta gente aderir ao seu apelo musical. Era impossível não reagir a temas tão fortes como "Moving", "Rebel In You", "Pumping on Your Stereo", "Mary", "Grace" ou "Sun Hits The Sky", canções de esqueleto
pop mas que ganham um espectacular brilho
rock ao vivo. Encerraram com a potente "Caught By The Fuzz" e deixaram de fora "Alright", um dos seus temas mais conhecidos, mas que seria apenas eficaz para as pessoas desinteressadas que aparecem nos concertos para vibrar com uma canção. Prometeram voltar.
Para encerrar com chave de ouro o palco principal, e perante uma plateia repleta, outros senhores que não têm nada a provar. Caíram no meio musical com esse portento que é o disco homónimo de estreia e a partir daí o mundo caíu a seus pés. Com um arsenal sonoro e visual digno de uns cabeças de cartaz, puseram todos ao rubro com os primeiros acordes de "Dark of The Matinee". A partir daí foi um rol de êxitos, distribuídos pelos três discos, e a festa foi deles. Dançar era a palavra de ordem, que foi obedecida pelos milhares de presentes. E os exercícios rítmicos do final do pré-
encore e da segunda entrada em palco mostram claramente a apetência da banda por tudo o que ponha os pés, os ombros e a cabeça a mexer. Foi a primeira vez que os vi ao vivo, e penso que em Paredes de Coura têm o público, o tempo e o espaço que merecem. Foram profissionais, é certo, a máquina está bem oleada, o público esteve nas suas mãos, mas o que importa é que se divertem e divertem quem deles gosta.
Depois disto, os Chew Lips não me cativaram o suficiente para lá permanecer muito mais tempo, pois o cansaço estava a vencer a curiosidade.
Apesar do Festival de Paredes de Coura ser dos poucos (senão o único) em Portugal em que a música ainda tem importância, tenho cada vez menos paciência para quem lá está por tudo menos por ela.