A propósito da descoberta de um
blog lançado pela Lily Allen, em que é dada a oportunidade aos músicos que não concordam com os
downloads ilegais de música de expressarem a sua opinião, dei por mim a pensar, mais uma vez, sobre este assunto. De facto, existem artistas que discordam do abuso deste tipo de
downloads. Não são só as editoras e os que mais vendem que pensam assim. Um dos fortes argumentos que Lily Allen apresenta é o perigo de artistas emergentes fora do panorama
mainstream não chegarem a ser contratados pelas editoras, não tendo assim acesso a melhores meios de produção nem de divulgação. Não posso deixar de concordar com isto, até certo ponto. O
download ilegal massivo de música contribui para um sistema de não retribuição do artista. Sem uma promoção eficaz, e aqui incluem-se os meios cibernéticos, essa música não chegará a um público suficientemente vasto que permita que o artista viva da sua arte, através das receitas dos discos e dos concertos. Os Interpol, por exemplo, não vieram cá em 2005 devido às fraquíssimas vendas de “Antics”. Se os artistas e promotoras tiverem mais indicadores de sucesso, mais artistas poderão vir a Portugal e em melhores condições (em nome próprio e não integrados num qualquer festival de verão). Poderão dizer-me que as multinacionais são uns sanguessugas, mas esquecem-se das editoras independentes. Poderão dizer-me que as maiores receitas são as resultantes dos concertos, mas sem público suficiente não há receitas. Por alguma razão usei tantas vezes o termo “ilegal”, porque o é, e até por vezes é imoral, quer no sentido da inconsequência e indiferença, quer nas acções danosas que poderemos estar a cometer. Podemos diminuir o peso dessa ilegalidade, mas não compete apenas a nós julgar estes actos. As editoras, os governos e, principalmente, os artistas devem ter uma pronunciamento válido e convincente sobre esta matéria. Existem muitos artistas que defendem este tipo de
download e até pode residir aí o segredo do seu sucesso, mas penso ser errado generalizar.
Antes que me crucifiquem, fiquem a saber que acho a Internet um meio excelente de divulgação e promoção, utilizo-a quase todos os dias, sou um fã do myspace e, sim, já fiz
downloads ilegais. Mas quantos de nós, depois de o fazer, compraram os discos ou foram a concertos? Apesar do preço obsceno de muitos discos em Portugal (principalmente se compararmos o nosso poder de compra com o dos ingleses, por exemplo), continuo a ser um ávido comprador de música e espectador de concertos. Acredito na democratização da cultura, e para isso o Estado deveria ter um papel mais activo por forma a facilitar o seu acesso, mas também acho importante a nossa retribuição. Se não a um intermediário, então que seja directamente aos artistas, pois muitos deles vendem as suas obras nos seus
sites. Não será com um controlo do acesso aos conteúdos ou à velocidade da Internet que se encontrarão uma ou mais soluções, mas terá que haver um acordo implícito de respeito entre os produtores e consumidores, e não uma presunção por parte destes segundos que seja prejudicial aos primeiros.