[Para ampliar é só clicar]White Rose Movement – Não cheguei a tempo de os ver, mas ouvi opiniões bastante divergentes, oscilando entre o “pouco mas bom” e o “não há paciência”.
Gomez – Nunca os tinha visto ao vivo. O crepúsculo foi o cenário circunstancial em que a banda britânica com muitas piscadelas de olho ao outro lado do Atlântico se apresentou. Um dos elementos tratou de cativar a massa de fãs e curiosos a se manifestarem e eventualmente dançarem alguns temas. Abriram e fecharam com o álbum de estreia (“Get Miles” e o apoteótico “Whippin’ Picadilly”), percorreram os diversos álbuns em jeito de súmula, tal era a escassez de tempo. Boa prestação, boas vozes. Fiquei satisfeito.
Madrugada – Há sempre uma banda sacrificada nestes festivais para que os protestos do estômago sejam apaziguados. Os noruegueses foram os escolhidos, e não me arrependi da decisão. Aquilo que ouvia ao longe estava longe da ideia de intimismo que tinha da banda. Aliás, se não soubesse que eram os tipos, nem acreditava. Um
rock descabido, no mínimo.
Broken Social Scene – A surpresa da noite. Já os conhecia em disco, mas fiquei siderado com a prestação destes canadianos. Colectivo variável em número de membros em palco, com a base guitarras + bateria + baixo, aos quais acrescentavam os sopros, os teclados ou o violino em certos temas. Melodias banham-se num mar de distorção, vozes rompem a muralha de guitarras, num som que tanto deve aos pioneiros americanos (Sonic Youth, Pavement) como ao
shoegazing (sem o
shoegazing propriamente dito), sem contudo soar a chapa 5. Dispersos mas coesos, feito difícil de conseguir e preservar. Sem refrões orelhudos, conquistaram a audiência com uma prestação consistente e que enchia as medidas. Um dos melhores concertos!
Morrissey – O culto dos Smiths e, posteriormente, do seu ex-vocalista, não passa de forma alguma despercebida em Portugal. Qualquer fã que se preze não deve ter perdido esta prestação, e tal era atestado pela quantidade de t-shirts dos “Silvas” de Manchester. Moz entrou em palco com uma vénia colectiva e logo se ouviram os acordes de “How Soon Is Now?”, o que aqueceu logo os ânimos na plateia. Por entre chuva, trocas de camisa e tentativas de comunicação envolvendo vendas de discos, opiniões sobre os temas que cantava e a prestação de Portugal no Mundial de Futebol, desenrolou-se pouco mais de uma hora de repertório, sendo que os temas mais aclamados foram os dos últimos 2 álbuns e os dos Smiths. Foi precisamente com “Panic” (ou melhor, parte dele) que abandonou o palco sem direito a
encore. O fãs mais acérrimos podem-lhe perdoar e tudo lhe permitir, mas para mim foi de muito mau tom (para dizer criminoso) abandonar o palco assim. Mas não deveria constituir surpresa, uma vez que a arrogância sempre seu apanágio. Gostei da imagem discreta ao fundo, retratando Oscar Wilde. Não gostei dos uniformes da banda.
Fischerspooner – Depois do amargo de boca, fui ver se batia um pé de dança. Um espectáculo com muito
show off e um aparato que incluiu coreografias, mudança de guarda-roupa e explosões de papel. No entanto a prestação parecia assombrada pela presença de algum
playback. Acabou em apoteose com “Emerge”, já no
encore, tema que tinha sido falsamente ameaçado por Casey Spooner, uma vez que, segundo ele, não permitia a sua evolução como artista (encenação, portanto). Foi engraçado, apesar do faceta
performance abafar a componente musical.
Vicious Five e Eagles of Death Metal – Devido a contratempos não cheguei a tempo de os ver, apesar de os ir ouvindo na rádio. Os primeiros pareceram-me menos convincentes que em disco e os segundos demasiado preocupados com o bem estar do público. O vocalista parecia alguém que vive confinado numa aldeia durante o ano todo e que ficou fascinado por um público tão numeroso. Josh Homme não veio.
Gang of Four – Uns dos percussores do movimento pós-
punk apresentaram-se em palco em grande forma física e musical. Os ritmos fortes e as linhas de baixo (não tão enérgicas como em disco) são maestros, conduzindo as linhas rudes de guitarra e a prestação vocal de Jon King. Este último parecia frenético em palco, com poses pouco vulgares e uma genica a roçar a demência. Quem não os conhecia, poderia ter identificado os ensinamentos de bandas como os Franz Ferdinand ou os Radio 4 circa “Gotham!”. Por entre letras polémicas e abordagens políticas, desfizeram um micro-ondas e incitaram o público, que respondeu mais entusiasticamente a temas mais emblemáticos, como sejam “To Hell With Poverty” ou “Damaged Goods”.
Yeah Yeah Yeahs – Coadunando-se com a chuvada que se ia fazendo sentir, Karen O entrou de impermeável em palco ao som de “Cheated Hearts”. Em breve se desfez da cobertura e revelou-se uma super-mulher alternativa, com uniforme a condizer. Apesar dos temas do segundo álbum terem sido recebidos com mais louvor, mas foi a energia dos registos anteriores (destaque para “Miles Away” e “Y Control”, a encerrar) que suscitou reacções mais intensas no público (
mosh e
crowd surfing com fartura). Karen O é um animal de palco (aqueles trejeitos, gestos e uso do microfone já sua imagem de marca), apesar de pouco comunicativa (exclui-se a
body language). Pecaram pela brevidade do concerto e pela fraca qualidade do som. Estranho foi ver o 4º elemento em pose autista durante grande parte do tempo.
Bloc Party – estes putos ingleses provaram porque têm uma grande legião de fãs, facto comprovado pelo número e densidade de pessoas a assistir. Abriram com um tema novo, que foi bem recebido, e em seguida abriram o desfile do álbum de estreia, para gáudio e delírio dos presentes (incluo-me). Seguros e comunicativos, conquistaram o público com o seu carisma (principalmente Kele e o baterista) e um punhado de boas canções, enérgicas, emocionais e políticas q. b.. Ritmos musculados e guitarras distorcidas em pleno domínio. No
encore tocaram o belo “So Here We Are” e um fecho em grande com “Pioneers”. Conquistaram-me. Voltem!
We Are Scientists – O público dos BP abandona a frente do palco, o que me permite ver os WAS mais à frente. Não tinha grandes expectactivas em relação a eles, mas surpreenderam-me. Julgava que eram uma banda com um ou dois
hits, mas revelaram-se mais que isso. O vocalista demonstrou mestria no domínio das seis cordas e a base rítmica garantia o apelo, quando não eram as melodias orelhudas. Entre temas conferenciavam e brincavam com as prestações anteriores (dor de cotovelo ou sarcasmo?). Dei o meu tempo por bem empregue.
Cat People – espanhóis escandalosamente derivativos dos Interpol. Derivativos, não, clonados. Até na indumentária! Ainda tentaram disfarçar com uma versão desenxabida de “I Wanna Be Adored”, mas não há pachorra.
Shout Out Louds – o recinto foi invadido por góticos e
rockabillies, assumidos ou dissimulados, incluindo as grades junto ao palco e antes do concerto dos suecos.
Roadies de si mesmos, entraram em palco com ar tímido e, sem mais rodeios, exaltaram os poucos conhecedores que assistiam ao concerto com “The Comeback”, uma autêntica pérola
pop. E foi desta matéria que a prestação se recheou, mas com mais corpo e alma que no disco de estreia. Nota muito positiva, excepto para um grupo de espanhóis a quem pedi que falassem mais baixo, convencido estava eu que isso seria possível.
Maduros – Um erro de
casting. É um colectivo com bons músicos (Alexandre Soares, Pedro Gonçalves, Jorge Coelho) que se juntaram para passarem uns bons bocados, mas, definitivamente, aqui não se aplica o cliché que reza que o todo é melhor que a soma das partes. Entendo agora porque o Zé Pedro não é o vocalista dos Xutos e Pontapés.
!!! - A presença deste colectivo pela segunda vez consecutiva jogou a favor deles. Foram muito badalados no ano anterior, actuando e contagiando no lusco fusco. Este ano foram catapultados para um cenário nocturno, bem apropriado ao ambiente de festa. Com muitos instrumentos em duplicado, injectaram-nos doses massivas de impulsos dançantes e irresistíveis, num ritual de esquizofrenia contagiante. Deixaram o público rendido e a chorar por mais.
The Cramps – Nunca fui muito apreciados dos Cramps, apesar de lhes reconhecer valor e mérito. Torrentes de
rock’n’roll vertente
psychobilly jorraram no palco, alimentado pela química entre Lux Interior e Poison Ivy, apelando ao abanar da anca. Divertido e cativante, mas só até certo ponto.
Bauhaus – O concerto da noite. Digam o que disserem (que se juntaram pelo dinheiro e prestígio), este mítico quarteto imprimiu uma aura majestosa ao palco e isso projectou-se na plateia. Estiveram em grande forma, dinâmicos, ágeis, em especial Daniel Ash, do qual não conseguia tirar os olhos. As canções com mais de 20 anos ganharam nova vida, e eu assisti a este renascer da Fênix, apesar do dilúvio. Perdoo-lhes os excessos teatrais (deve ter provocado orgasmos visuais a muito boa gente) e o excesso de versões. Com tanto repertório próprio, para quê cantar temas dos outros? Enfim…
Não assisti aos
after-hours, pois os concertos esgotaram-me.
De destacar, pela positiva, a pontualidade dos concertos e as escolhas do cartaz. Escusado será dizer que o anfiteatro natural torna este cenário único.
De lamentar a chuva e a lama, o efeito super-diurético da Heineken, a falta de civismo dos portugueses (penso que é a imagem do país que temos) e ainda maior dos espanhóis (desliguem-lhes os altifalantes, principalmente se estiverem junto ao palco), a falta de
wc’s e a
fast food corporativista.
De uma forma geral, nunca faço balanços muito positivos dos festivais. São mais económicos, é certo, mas as misturas de públicos não resultam comigo. Se bem que em Paredes de Coura as diferenças atenuam-se ou não são tão evidentes.